terça-feira, março 12, 2024

certezas leva-as o vento

quão confiantes somos e com quão certos estamos de algo ou conseguimos ser? em criança passamos de ter todas as certezas, a não ter nenhumas, num espirro. em adultos aprendemos a tentar parecer ter mais certezas, mesmo sem as ter. as certezas não se vendem e normalmente quem mais as tem, menos sabe ou acerta. não deixa de ser um objectivo humano em busca muitas vezes de foco e propósito.



“Certezas, precisam-se”, António Gedeão

Preciso urgentemente adquirir meia dúzia de valores absolutos,

inexpugnáveis e impenetráveis

firmes e surdos como rochedos.


Preciso urgentemente de adquirir certezas,

certezas inabaláveis, imensas certezas, montes de certezas

certezas a propósito de tudo e de nada,

afirmadas com autoridade, em voz alta para que todos oiçam,

com desassombro, com ênfase, com dignidade,

acompanhadas de perfurantes censuras no olhar carregado, oblíquo.


Preciso urgentemente de ter razão,

de ter imensas razões, montes de razões

de eu próprio me instituir em razão.

Ser razão!

Dar um soco furibundo e convicto no tampo da mesa

e esplanar razões nas ventas da assistência.

 

Preciso urgentemente de ter convicções profundas,

argumentos decisivos,

ideias feitas à altura das circunstâncias.

Preciso correr convictamente ao encontro de qualquer coisa,

de gritar, de berrar, de ter apoplexias sagradas

em defesa dessa coisa.

Preciso de considerar imbecis todos os que tiverem opiniões diferentes da minha,

de os mandar, sem rebuço, para o diabo que os carregue,

de os prejudicar, sem remorsos, de todas as maneiras possíveis,

de lhes tapar a boca,

de lhes cortar as frases no meio,

de lhes virar as costas ostensivamente.

Preciso ter amigos da mesma cor, caras unhacas,

que me dêem palmadinhas nas costas,

que me chamem pá e me façam brindes

em almoços de camaradagem.

Preciso de me acocorar à volta da mesa do café,

e resolver os problemas sociais

entre ruidosos alívios de expectoração.

Preciso de encher o peito e de cantar loas,

e enrouquecer a dar vivas,

de atirar o chapéu ao ar,

de saber de cor as frequências dos emissores.


O que tudo são símbolos e sinais de certezas.

Certezas!

Imensas certezas! Montes de certezas!

Pirinéus, Urais, Himalaias de certezas!


via mundo dos livros

segunda-feira, dezembro 31, 2018

A magia de um fim anunciado

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos para depois
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido
Sobre a razão estar cega
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu
Como eu não fui
Um dia vou-te ouvir dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma
Sei que um dia vais dizer
E pudesse eu pagar de outra forma

Ornatos Violeta, Ouvi Dizer


Há qualquer coisa bizarra num fim anunciado. O ano chega ao fim e logo agora que nós tínhamos tantos planos para ele. Muitos desses planos incríveis e maravilhosos terão de ficar para depois. É a procrastinação no seu auge. Antes do ano terminar quero escrever isto, organizar aquilo, fazer os vídeos que passei o ano a adiar, ir aos sítios onde não fui. Nada melhor do que atirar para canto. Já nos conhecemos bem, não vale a pena chover sobre o molhado.

Para o ano ainda cá andamos, esperamos. Mas, por isso mesmo, porque não organizar melhor, focar melhor, sonhar melhor, ser mais livre melhor, aspirar a outros mundos, mesmo sem fundos, não ter medo de arriscar e planear à nossa vontade.

Chega ao fim um ano. Começa outro em breve. Somos carne para canhão, pois então, prontos para ser disparados, mas podemos ser nós a disparar primeiro, a não esperar por um lugar dourado que não existe, muito menos que nos seja entregue uma bandeja dourada e sonhada. Bom novo ano.





domingo, junho 10, 2018

why so... the end

post não recomendado a pessoas sensíveis) 

13 Reasons Why. Oficial e Cavalheiro. O Clube dos Poetas Mortos. Anthony Bordain (já nem falo em Robin Williams, Marilyn Monroe, Kurt Cobain, Chris Cornell, Ernest Hemingway, Sylvia Plath, Michael Hutchence, Tony Scott ou Robert Enke). O que tem tudo isto em comum? Alguém que toma a decisão de deixar de viver. 
É uma das coisas que podemos controlar na vida: acabar com ela. É um tema difícil e de poucas respostas. 

Em 13 Reasons Why, a série do Netflix, há uma adolescente que no auge de uma cultura de humilhação na sua escola - não falta violação - decide deixar de viver (corta os pulsos na banheira). É uma decisão, aparentemente, ponderada. Fez listas de razões para viver e para morrer. A série de grande qualidade levanta questões centrais na cultura adolescente das últimas décadas e faz-nos pensar seriamente sobre a condição humana. Pena que a segunda temporada seja tão pobre em história...

Oficial e Cavalheiro é de 1982. Tinha um ano quando foi lançado. Vi o filme uns anos depois, claro. Acho que foi a primeira vez que vi o tema suicídio aparecer de forma tão clara - por essa altura o irmão de um amigo do meu pai, que acumulou dívidas de jogo, suicidou-se e lembro-me do incómodo dos adultos em falar ou responder a perguntas sobre o tema. O melhor amigo de Richard Gere (Mayo) no filme, pressionado pela família rica em casar-se com quem não amava e enganado pela 'amante' que amava (disse-lhe que estava grávida mas mentiu) suicida-se por enforcamento. É assim que Mayo o encontra num quarto de motel (ainda o tenta salvar). Tristeza, lágrimas e alguma revolta de Mayo e de mim, a ver o filme... Naquele caso também foi algo minimamente planeado, mas em resposta direta a um acontecimento (desistiu da Academia e de ser Oficial da Marinha para pedir em casamento a amante que achava grávida mas ela só o queria como oficial). 

O Clube dos Poetas Mortos é de 1990. É um dos filmes da minha vida e aquele que mais me marcou na pré-adolescência por vários motivos. Neil Perry (Robert Sean Leonard), pressionado pelo pai em seguir medicina e já com a certeza que não o iriam deixar cumprir o seu sonho de ser actor, decide evitar 10 anos de "prisão" ("uma vida") a estudar medicina e deixar de viver (um tiro na cabeça no escritório do pai). Aqui parece ser algo reactivo: depois de ter brilhado na peça da escola, o pai proibiu-o de continuar e anunciou que o tinha inscrito num futuro como médico. Nessa noite ele reagiu da forma mais categórica, permanente, irremediável e sem volta atrás. A dor que causou aos pais e aos amigos - nunca me vou esquecer (enquanto tiver memória) do Ethan (Todd Anderson) Hawke a correr pela neve em lágrimas e aos tombos e soluços pela morte inesperada do amigo que o tinha ajudado, mudado e inspirado. 

Anthony Bordain, 2018. Aos 61 anos, com uma filha de 11 do seu segundo casamento com a italiana Ottavia Busia (divórcio em 2016), morreu esta semana por enforcamento (dizem) num quarto de hotel em França, quando se preparava para gravar mais um episódio do seu programa de sucesso na CNN. Era um dos tipos que aparece na televisão nos dias que correm, mais respeitado (os seus cine-documentários apaixonantes de viagens repletas de experiências gastronómicas, culturais e muitas vivências distintas tiveram um impacto único) e mais invejado pela sua profissão de viajar, escrever, beber, comer e partilhar vivências. Era um tipo tão complexo quanto interessante e cativante. Parecia um espírito livre, para fazer e dizer o que queria. Isso era viciante, até porque tinha uma forma de olhar para o mundo e de contar histórias audiovisuais notável e original. A sua morte pode ter sido por reação, a qualquer desilusão maior que o atirou ainda mais fundo para o lado negro e negativo que já teria antes, ou um acumular de depressão secreta que poucos deveriam saber que tinha. Se foi esta última, ele teve tempo para pensar no futuro da sua filha. Pode ter achado que ficaria melhor sem ele. Pode ter pensado nos prós e contras ou ter-se focado apenas em acabar com um sofrimento que achava insuportável. 



Uma morte por reação a um acontecimento, diria que é mais evitável do que uma depressão profunda que leva a pessoa a preparar com calma e durante algum tempo a sua morte. E o que é que isso importa? É certo que o resultado final já aconteceu em todos estes casos (alguns deles ficção, eu sei). Mas se há coisa que a série 13 Reasons Why teve mérito de expor na sua primeira temporada (escusam de ver a segunda) foi que, uma palavra amiga - ou melhor, um interesse genuíno em perceber e apoiar uma pessoa em dificuldades - no momento certo a alguém que decidiu deixar de viver, pode fazer a diferença. Pode mudar uma decisão tomada por algum acontecimento. Pode aligeirar um sofrimento persistente. "O Bordain matou-se". "O Bordain!? Mas porquê?" Why?

domingo, setembro 11, 2016

cre(cher)

Ando constipado. Andamos todos cá em casa, menos o gato. Ontem deitei-me cedo na esperança de compensar noites mal dormidas. Mesmo acordando pelas 7h40 para dar biberão ao puto, continuo a acordar cansado, ensonado e com pouca energia. Síndroma de 'night person' ou meramente o acumular dos dias intensos? Já nem sei.


Achei que começar a despachar-me pelas 9h25 dava tempo para tratar do puto, deixá-lo na creche e ir a um visionamento. Enganei-me. Há sempre imprevistos. Bastam umas novas peças de roupa ou um pouco mais de rabugice e perdem-se mais uns minutos. 


Já perto das 10h20 (depois da viagem de 5 minutos onde pus como habitualmente na Smooth para por o puto no ponto) estaciono o carro no sítio do costume, junto à creche e, ao tirar o puto do carro, uma senhora nos seus 70 aproxima-se do meu puto e mete-se com ele. Fica viciada assim que vê o primeiro sorriso – o puto é social, gosta de pessoas e de sorrir para elas – e começa a falar que tem saudades de cuidar do neto com aquela idade. Isto enquanto eu faço ginástica, com o puto ao colo, para tirar o saco com o almoço do carro e colocar o cinto na cadeira de bebé. Ela continua a falar do neto, agora com seis anos, e em como o filho se desentendeu com ela e o neto não percebe porquê. 
Depois começa a acompanhar-me um pouco no caminho, comigo a ouvi-la e respeitá-la mas a ter dificuldade em perceber a história complexa de zangas familiares. Percebi claramente que ela já tem dificuldade em se exprimir e em arrumar as ideias e memórias mas sentia acima de tudo necessidade em desabafar.

Deixei-a falar um pouco, enquanto o Vasco ia sorrindo a espaços, e despedi-me desejando-lhe sorte. 
Entrei pelo jardim escola pelo sítio do costume, a secretaria – é mais fácil quando se deixa o puto depois das 10h, como é sempre o meu caso – e como é já da praxe, as funcionárias procuraram receber o tradicional sorriso do jovem Vasco e ele correspondeu.

Subi o lance de escadas, com o puto a explorar como sempre o percurso, como quem planeia um plano de fuga caso se torne necessário. Mais uns 'bons dias' e sorrisos, agora às miúdas que já brincam no jardim, e lá o deixei na creche, com mais quatro colegas de turma – dois dormiam calmamente. 


Ao sair, hoje com alguma pena por não ficar com ele mais tempo de manhã – sorry puto! –, uma miúda dos seus dois anos ainda na ala do infantário vem ter comigo a chorar. Está a tentar fugir – embora aquela ala esteja fechada. 
“Quero a minha mamã!” Diz-me em lágrimas e enquanto segura um peluche. Eu já estava a sair mas peguei-lhe ao colo, acalmei-a um pouco, meti-a no chão (lembrei-me que se calhar não devemos pegar ao colo os filhos dos outros, especialmente quando os pais não estão presentes), dei-lhe a mão, e levei-a com calma para o quintal do infantário para junto das educadoras enquanto lhe ia dizendo: “A mãe volta mais logo. Agora podes brincar com os teus colegas. Tens brinquedos giros. Vai correr tudo bem.”

O que se diz a uma miúda nestas circunstâncias? O cliché, o típico, nada e tudo. Deixei-a com as educadoras e disse-lhe adeus com um sorriso. Ela sorriu brevemente de volta mas regressou de imediato às lágrimas e a chamar pela mãe. 


Com tantas peripécias falhei o visionamento mas ganhei uma história e uma pseudo-moral: com 2 ou 72 anos, todos precisamos de atenção, todos precisamos de amor da família/amigos, todos sentimos falta quando não a temos – ajuda se tentarmos ser mentalmente saudáveis o máximo de tempo possível.

quarta-feira, janeiro 06, 2016

"Are you ready to face the enemy?"


A frase, do filme Quatro Casamentos e um Funeral, foi dita em contexto de noivo ir para o casamento. Hoje, para mim é adequada ao acto de acordar e estar preparado para o dia que se avizinha.
Bom dia, sem Mokambo.

quinta-feira, agosto 20, 2015

regresso ao pinhal a que chamo casa

Há filmes que nos atiram com estrondo para a infância. Para essas memórias que já parecem tão distantes mas em dias como este passam pela cabeça num corropio frenético de momentos que nos fizeram ser o que somos hoje em dia (em parte). Recordo-me de escrever mensagens para o meu 'eu' mais velho. Queria que ele me respeitasse e se lembrasse de mim. Ideias infantis e que faziam tanto sentido na altura. Talvez soubesse que os adultos esquecem. Que os adultos distanciam-se desses sentimentos infantis, de criatividade pura e abertura completa ao mundo real e imaginário. Recordo-me dos primeiros pesadelos, depois de ter acordado uma noite sem os meus pais em casa e ter deambulado de meias pelo pinhal a que ainda chamo casa (embora já lá não viva) a chorar e a imaginar-me abandonado. Recordo-me dos cheiros do pinhal nas várias estações do ano, dos dias de chuva, de brincar na lama (maravilha). Recordo-me de imaginar mundos e embarcar em lutas de espadas de madeira com as árvores, de espiar à noite a minha própria casa do lado de fora - e de assustar assim a minha mana mais nova. Recordo-me de correr pelo pinhal abaixo e acima e de esfarrapar os joelhos vezes sem conta. Depois vieram as corridas de bicicletas, pinhal abaixo para ganhar velocidade, e os espalhos mais agrestes depois de esbarrar em raízes de árvores a velocidade excessiva - dessas memórias ainda tenho marcas no corpo. Recordo-me da liberdade de abrir a porta de casa e continuar em casa, com o pinhal como quintal onde podia fugir, berrar, cantar e jogar à bola de estádio cheio (era perito em comemorar golos após tiros perfeitos às paredes). Recordo-me de escrever o meu nome nas paredes, porque queria deixar a minha marca, sem pensar em consequências - nem todos achavam que o nome do puto devia de estar nas paredes. Enfim, recordo-me de tanta coisa em que não pensava há tantos anos. O miúdo que fui ainda está por aqui, a espaços. Obrigado pelo bom filme, pelas boas sensações e pelas memórias reavivadas, monsieur Jeunet.

(O filme? The Young and Prodigious T.S. Spivet) 




sexta-feira, julho 17, 2015

o silêncio deixa-me aceso

o silêncio está cada vez menos na moda. entre tv (não incluo a música porque chega a parecer/saber a silêncio em certas alturas), youtube, redes sociais, colegas de trabalho barulhentos, o rude-ruído diário da cidade e notificações várias (nossas ou dos gadgets dos outros), quantos minutos passam de silêncio verdadeiro? às vezes sabe bem ouvir o silêncio. há um momento, à noite, em que desligo a tv ou o computador e 'ouço' o silêncio. uma bela sensação, inesperada, curiosamente. andar pela cidade depois da meia noite também chega a trazer momentos desses... que chegam a ser bizarros. a cidade à noite é bem mais silenciosa e 'morta' de seres vivos do que o campo, onde os sons da natureza são um 'silêncio' bom que experienciei boa parte da vida 'on a daily (and existential crisis) basis'. boa noite. amanhã entro na idade média, por Óbidos a dentro. desejem-me sorte na viagem no tempo.

sábado, fevereiro 21, 2015

e se todos os carros fosse iguais? seria triste.

Graças ao deus dos automóveis (seja lá o que isso for) que há muitas marcas e modelos diferentes, com designs e estilos bem distintos. Tive uma visão aterradora ontem, enquanto passeava numa das maiores fábricas de automóveis da Europa - a da Seat, de Martorell, na zona de Barcelona.
E se todos os carros fossem iguais, da mesma marca e praticamente do mesmo modelo? 
O que vi não foi bonito. Mesmo com carros bem desenhados e modernos como os Ibiza e Leon que se vêem aos milhares dentro e fora da fábrica da Seat, a constância de carros iguais é um enjoo doentio e cansativo.
Há um certo cinzentismo perturbador numa sucessão de automóveis totalmente iguais. Se na teoria existir um automóvel tipo para todos, uma linha de roupa para todos (e com as 'modas' isso até se vê, muitas miúdas e miúdas parece saídos da mesma página de catálogo fashion, inclusive nos penteados), ou outro tipo de acessório humano, pode parecer lógico, ver isso na realidade é simplesmente demasido castrador e limitado.
Existem produtos mais pequenos (no espaço que ocupam na rua e na sociedade) que um carro e menos pessoais do que a roupa que vestimos que até podiam ser todos padronizados e iguais que não daríamos muito pela repetição constante. É possível que sim (vou arriscar e dizer a Apple e alguns dos seus produtos). Mas se os iPhone passam mais despercebidos, uma sala cheia de MacBooks também pode ser um exagero masturbatório de igualdade tecnológica... só maçãs iluminadas umas atrás das outras.
Ainda assim uma visão bem menos surreal e intensa que dezenas de carros iguais por todo o lado. A diversidade automobilística é saudável, bem vinda e desejável não só no estilo próprio de cada marca mas também no propósito de cada modelo, entre o pequeno citadino, o sonoro e agressivo desportivo e o gigante monovolume.

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

divagações sobre sorrisos pelo ar

Da série: coisas/divagações que um tipo escreve durante um voo...
   
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A muitas milhas acima da superfície terrestre, num avião a caminho de alguma cidade europeia nessa mesma superfície, dou por mim a pensar no que irá na cabeça de um outro ser humano. É uma rapariga, nos seus trintas, loura, bonita, e com um sorriso constante, contagiante e bonito.
    Está cá em cima, no ar, a cumprir um trabalho, uma missão, protocolos e regras especificas. É a sua ocupação, aquilo que faz para ter os meios para viver a sua vida, comprar as suas coisas.
    Quando olho para ela vejo dever, obrigação, e fico indeciso sobre o que aquele sorriso brilhante esconde por trás. Analisando o sorriso e a linguagem corporal, vejo um misto de obrigação e algum prazer no trabalho. Não vejo o sorriso 100% genuíno, alterna entre o 10% - para certas pessoas menos afáveis ou parvas – e o 90 a 100%, para pessoas ou situações mais próprias se sorrir genuinamente.
    Acabei por contar, nas operações de distribuição de comida aos passageiros deste pássaro mecânico voador, uns 5 a 10% de tempo em que assistente de voo (antiga hospedeira de bordo – designações leva-as os vento, ao estilo fiscal de linha vs árbitro assistente) não estava a sorrir. É obra. Deve ser difícil conseguir sorrir tanto tempo. Só uma pessoa de sorriso fácil conseguiria tamanha tarefa hércula. Ainda assim com o passar dos anos pergunto-me quanto se perdeu de sorriso genuíno e o acto de sorrir não passou a ser mais obrigação.

    Claro que nem todas as assistentes de bordo sorriem assim, há algumas mal encaradas, pouco sorridentes (ou com sorrisos bem mais forçados e pouco credíveis). Este sorriso é credível, mas deixa margem para me questionar quem é esta rapariga, quão genuíno é o seu sorriso e porque é que as pessoas têm o dever de sorrir em certas ocupações. É perceptível que se incentive a simpatia.

    O sorriso é um bem que não devia ser transaccionado. Será que neste caso está a ser. Provavelmente vem mais da pessoa do que da mera obrigação. Não me queixo do belo sorriso da rapariga loura, bem pelo contrário. Mas um sorriso tão duradouro deixou-me na dúvida.
    Lembro-me de um estudo que dizia, com alguma propriedade, presumo, que sorrir é contagiante e as humanos deviam tentar sorrir mais porque só esse acto pode ser positivo para a sua alegria e felicidade diárias. Eu sou daqueles que acha que um sorriso constante, ininterrupto, esconde qualquer coisa mais negra em algumas situações, pode funcionar como uma capa, máscara, pouco real e que mascara a realidade.
Mas uns quantos sorrisos por dia, nem sabem o bem que vos fazia (ok, até sabem, foi só para rimar). Despeco-me como comecei:
    Muitos sorrisos para todos.

terça-feira, janeiro 20, 2015

começar e... divagar

A música ecoa na minha cabeça, no meu corpo, na minha consciência. Quando ouço música, boa música, palavras com ritmo e sentido aliadas numa união bem conseguida com sons, cadências, embalos, murmuros - pode ser apenas música sem palavras -, algo acontece em mim. Entro numa consciência diferente, como se sonhasse. Ajuda-me a concentrar em mim mesmo, o que pode ser útil quando tenho tendência para me dispersar.

Olá. Sou eu. E gosto de escrever e imaginar, não necessariamente por essa ordem. Quando escrevo imagino e muitas vezes imagino tanto que sou obrigado a escrever.
Ultimamente imagino bem mais do que escrevo - curiosamente quando era miúdo e adolescente imaginava muito mais do que hoje em dia (todo eu era imaginação, alguma dela tola).
Tenho escrito nas últimas semanas mais por profissão, como ofício, sem a ligação à imaginação que tanto gosto. A motivação é gerida por nós próprios e há cada vez mais top's a indicarem-nos as fórmulas mágicas diversas com que podemos ser mais produtivos, mais criativos, mais bem sucedidos, como podemos passar a ser pessoas madrugadoras ou simplesmente como passar a correr todos os dias. Até nestas coisas sou agnósticos. Quero acreditar mas não me consigo enganar a mim próprio e cumprir essas metas. E o Inverno não ajuda!
Em Inglaterra todas as casas têm aquecimento central e que falta que isso fazia na minha vida nestes dias de Inverno! De manhã, perante o frio pela casa - mesmo com o aquecedor ligado -, levantar é dolorosamente difícil. O corpo pede que continue no quente da cama, dos lençóis. É instintivo.
À noite apetece procurar refugio nas mantas, nos aquecedores e no sofá. Apetece pouco cumprir metas, apetece apenas sobreviver.
"Para mim hoje é Janeiro está um frio de rachar, parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar". Rui Veloso cantou e Carlos Tê escreveu. Eu só alteraria a parte final: "parece que o meu mundo inteiro se uniu para me tramar".
O irónico nesta divagação é que a sua própria existência sou eu a conseguir, letra a letra, pensamento a pensamento, associação a associação, a conseguir-me libertar da inércia dos últimos dias de frio, desmotivação e constipação (é gripe mas constipação rima e eu não gosto de perder uma oportunidade).
Deixo-te como comecei, sem saber por onde estou a ir nem o que vou escrever a seguir (outra rima!). Um pensamento: aquece o teu quarto e a tua mente, o resto chega por associação.
Boa noite, e boa sorte. (não me canso da referência).

(post ao som da banda britânica - afinal é cantautor irlandês - Hozier)

quarta-feira, agosto 27, 2014

sou um pinhão de um pinhal

Lembro-me de noites destas em casa, na casa onde cresci, no meio de um pinhal, de um campo. Eram noites diferentes, sem as luzes nem o barulho da cidade. Lembro-me de não dar particular importância à beleza a noite, da Lua, das estrelas, do grigri dos grilos e de tantos outros animais que por ali andavam. Nasci no meio de tudo aquilo, era o que eu conhecia. Era a única forma de acordar a meio da noite ou de manhã.

Pensava mais na insónia em si, no presente no passado ou num momento lixado. Imaginava mundos e histórias, inventava canções e respectivas letras que me parecia geniais mas se desvaneciam pela manhã. 
A tv também andava por ali, mas recordo-me melhor das noites de Verão em que abria a porta de casa, entrava e abraçava a semi-escuridão da noite. Os pirilampos  a piscar fascinavam-me sempre. Nunca me cansava. Era delicioso... Perseguia-os. Capturava-os. Tentava perceber porque piscavam, se piscavam dentro de casa, com luz artificial por perto, e depois soltava-os novamente nas suas casas. 
Pensando bem era bom não ter computador naquela altura. Ou melhor, até cheguei a ter cedo mas não o usava todos os dias nem era importante como é hoje para comunicar, partilhar, recolher informação e procrastinar. 
Adorava ficar deitado pela noite no pinhal, a minha rua, o meu bairro. Adorava fugir, correr mesmo, estrada fora, com medo do que se escondia no escuro do pinhal, fossem lobos, monstros ou outro tipo de males - a imaginação era fértil. 
Não há maior liberdade do que sair da porta fora e estarmos totalmente à vontade, só nós e a natureza. A possibilidade de dar um berro ou cantar toda uma canção antes de deitar ou ao acordar no meio da 'rua', fora da porta de casa, em cuecas, sem constrangimentos, é das maiores liberdades que se pode ter. Eu sei porque sempre tomei isso por adquirido, mais de 18 anos da minha vida. Anos em que fiz parte de um pequeno pinhal. Isolado. Meu. Onde sonhei, imaginei, brinquei, marquei golos, explorei, vivi aventuras, cantei, discuti, ralhei, chorei e amei. 
Por isso e por muito mais serei sempre um tipo do campo, daquele pinhal, daquele céu e daquela liberdade, mesmo que nunca me tivesse identificado com alguma da 'típica' malta do campo que não ligava a filmes nem a música, nem a tipos como eu. 
Boa noite. E bons sonhos.

sexta-feira, junho 06, 2014

i can see clearly now the rain is gone

I can see clearly now the rain is gone.
I can see all obstacles in my way.
Gone are the dark clouds that had me blind. 
It's gonna be a bright (bright)
bright (bright) sunshiny day.

I Can See Clearly Now, Johnny Nash


Os carros não têm só uma utilidade prática de nos levar de um sítio para o outro. Mesmo parados são também casulos que nos colocam no meio da realidade, menos visíveis e mais contemplativos.
Se estivermos a ouvir música no rádio ainda melhor para esta reflexão tão humana e tão moderna. Podemos estar no meio da cidade a olhar para os outros carros a passar a velocidade ou apenas a observar pessoas a fazerem a sua vida. Malta de pijama a levar o lixo à rua, idosas a passear, mães a levarem os filhos para o infantário ou jovens a irem de mochila para mais um dia recreio e escola.

Esta contemplação quase voyeur é melhor dentro de um carro. Temos a música a acompanhar o pensamento (ou vice versa). Estamos sentados e protegidos de vento, chuva ou de outros elementos e podemos meramente pensar e observar. O efeito reflexivo é semelhante se formos para uma falésia ou para o campo observar o mar ou a natureza no horizonte. Provavelmente a olhar a beleza da natureza vamos pensar mais em nós e no que fazemos aqui, já que com a natureza não temos o elemento humano a distrair-nos de nós próprios. A certa altura apetece-nos abrir a porta e entrar de novo no mundo, sentir o vento na cara e olhar sem casulos.


Tudo isto faz-me lembrar o velho anúncio da Nescafé, um clássico, com esta música maravilhosa de Johnny Nash. Desde que era miúdo que me lembro de ver este anúncio. Parava tudo o que estava a fazer para ver aquela miúda gira no carro a olhar o horizonte. Estava-se a passar alguma coisa especial ali. Não era um mero anúncio. Para mim nunca foi.A música tocava enquanto ela estava no carro e, de repente, parava. Ela procurava algo na parte de trás do carro e encontrava a lata de café. Sem se ver pormenores, ouvia-se o a abrir da tampa, o ferver do café e o servir para a chávena. Maravilhoso. Depois ela saia do carro de chávena em punho e usufruía do café, da vista e da brisa do mar, la la la. Perfeito. Poucos anúncios acertavam tanto de forma tão simples. Delicioso momento humano.

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PS: Ter auscultadores e ouvir música (no iPhone, iPod e afins) pelo meio da multidão ou da natureza cria efeitos semelhantes. Mas de carro estamos mais protegidos de tudo, num perfeito casulo só nosso. E podemos ser mais observadores passivos, de outros humanos ou da natureza.

quarta-feira, maio 21, 2014

a love letter to my portuguese West

Um pequeno vídeo tolo fez-me lembrar como foi bom crescer nessa bela localidade que é as Caldas da Rainha (onde incluo ainda o Oeste de Portugal).

Aqui ficam memórias caldenses. 

Sair da escola e passear pela rua das Montras, ver as babes, ir à Praça da Fruta, passar pelo Parque (onde se jogava ping pong ou se apanhava molha em passeios de barco agitados no Verão).0
Iir à Upacal e comer um salame, ou passar pelas lojas do Parque, levar uns deliciosos Beijinhos. Ou, no Verão, ir experimentar os sabores novos na gelataria Puzzle (e ainda ver as novas figuras com pénis XXL prontos a sair de fora ao mero puxar de um cordel).

No Verão, a malta ia quase todos os dias de bicicleta até à praia: o Alto do Nobre era a subida de montanha da viagem; a fonte dos Namorados era o ponto de paragem obrigatório para esperar pelos lentos e beber água, no caminho até à Foz do Arelho - 15 quilómetros para cada lado que envolviam uma corrida diária entre os presentes, claro.

Nesses mesmos verões, sempre que queríamos fazer mais uns quilómetros de bicla, metíamo-nos pelo verde Nadadouro, com vista para a Lagoa de Óbidos, ou pelos caminhos menos conhecidos (de subidas complicadas) até ao meio da Estrada Atlântica (entre São Martinho do Porto e a Foz).
Certos dias íamos no autocarro saltitante estilo "mar alto" das Caldas até à Foz, onde havia sempre gente conhecida e o Ricardão não perdia oportunidade de assustar alguma miúda com o seu olhar fixo pseudo-sensual.
Na Foz - onde o ponto de encontro era sempre "junto à Bandeira" - jogava-se à bola umas horas, via-se as babes, dava-se mergulhos criativos (por vezes dolorosos) na Lagoa e combatia-se as ondas rebeldes durante horas no 'mar'. Muitas vezes (já sem o Lipinho na praia) só saíamos com o pôr do sol - lembras-te, Robert Charruadas?

Aos fins-de-semana podíamos ir de carro até Peniche, apanhar o barco até às Berlengas (fiz isso vezes a menos!).
Mais frequente foi: ir em famelga e de farta merenda na carrinha do meu Tio Zé almoçar no pinhal do Outro Lado da Foz. Depois do almoço que envolvia frisbees, cartas e afins, a tarde era passada na gigante Praia Del Rei, onde haviam nudistas lá ao fundo e o areal (com riachos com ligação ao mar pelo meio) parecia não ter fim. Por lá lembro-me de jogar aos Gladiadores Americanos ou aos penáltis com o Nuno Vinhais, de jogar raquetes até cair para o lado com o primão André Ramalho ou o daddy e de ficar vermelho, estilo Índio, como um pimento.
Quando havia vontade de fazer mais do que 20 quilómetros e ir para a confusão, íamos ao Baleal aproveitar aquele mar perfeito (entre o calmo e o ondulado o suficiente para o surf) e areal delicioso.
Mais tarde, já andava na faculdade em Lisboa, comecei a frequentar com a malta aos fins-de-semana ou nas férias Supertubos. Passou a ser a praia de eleição no Oeste, mais calma, com boas ondas e relativamente perto.

Voltando atrás, aos tempos de Secundário: em Agosto, nos verões em que não ia aprender a trabalhar com o meu Tio Júlio, ou descansava na loja do meu avô a fazer descontos a clientes, a ler as edições desde 1970 da TV Guia ou os desportivos sobre os milhares de reforços do Benfas, ou em alternativa juntava-me à (fictícia) Associação Sindical do Apanhadores de Pêra Rocha Universitários do Oeste.
Na Pêra, em plena aldeia da Sobrena, os dias começavam pelas 8h em ponto - a viagem começava pelas 7h20 a partir das Caldas, no Fiesta preto do Sérgio, com tudo ensonado.
Depois de boas histórias partilhadas, muita pêra comida, apanhada e atirada violentamente para os vários jovens camaradas da Pêra, o dia chegava ao fim com arranhões nos braços e pernas - a malta era acrobata nas Pereiras - e bronze à pedreiro (ao almoço havia um 'endireita' disponível).
A viagem de regresso de Fiesta pela mítica Nacional 1 era mais animada: envolvia corridas de carros, rabos à mostra para quem ia de mota (o Ruben era a vítima), buzinadelas para os velhotes que iam junto à estrada (cumprimentavam-nos sempre!) e conversa na língua russoviesky, onde o grande Cardozo era especialista doutorado.

'Olhando' para trás, penso:Jim Morrison é que tinha razão: «Carry me, Caravan, take me away
Take me to Portugal...»    «The West is the Best». 

E para mim confirma-se: o Oeste é melhor, pelo menos para mim foi.

terça-feira, maio 20, 2014

sortido de memórias

Ando constipado. Dor de garganta, tosse, um pouco de febre, the works. Nestas alturas lembro-me sempre dos remédios milagrosos e naturais da minha mãe que havia lá por casa. Chupar metade de uma fatia de limão com açúcar ajudava à dor de garganta. A calda da cenoura embebida em açúcar ajudava à tosse e até saboroso era.
Para a dor de dentes, bochechar com aguardente ou whisky ajudava. Saudades.
Fora de doenças, Sopinhas de Leite (delícia), Gemadas e um mix de gemada com farinha (massa se bolo) eram presenças gastronómicas à noite ou de madrugada.

sábado, março 08, 2014

o sol saiu à rua num sábado assim

Um tipo entra na Mango da Baixa por dever conjugal e entre bifas e tugas só ouve expressões como:



que giro; 
é lindo; 
o XS fica-me apertado; 
este fica mais comprido; 
o outro fica melhor; 
é giríssimo; 
aqui fica muito folgado; 
este fica mais curto mas é transparente; 
estás mais magra; 
estou a precisar de ir ao ginásio; 
the pants are weird but the jacket is supernice; 
oh, is lovely; 
ah tão giras; 
adoro; 
vou experimentar o S; 
esta não quero; 
aqui nos braços está curto e eu não gosto dos meus braços; 
o rabo fica bem?; 
should I try it again?; 
nas mamas fica bem?
não sei onde estão os sapatos da montra; 
a diferença para o XS não é muita; 
vou vestir a outra, já não sei de nada; 


Pelo meio uns homens com cara infeliz atrás das respectivas entre a algazarra e outros homens excessivamente eufóricos, com amigos respectivamente felizes por andar nas compras.
PS: a Baixa está a abarrotar de gente.

quarta-feira, dezembro 18, 2013

herr brecht für alles

Todas as artes contribuem 
para a maior 
de todas as artes, a arte de viver.


Bertold Brecht

terça-feira, setembro 24, 2013

perturbado pela noite.
derrubado pelo fado.
tudo cai quando sou lixado.
uma onda sem aviso
uma névoa sem passado
caio e levanto enviesado
ela olha e tudo pára
eu respondo. sou um diabo.
lucifer deixa-me ser apaixonado.

sábado, julho 14, 2012

alive is optimus

olho para o meu corpo com cada vez maior admiração. não são os músculos que estão mais tonificados ou a beleza que cresce a cada dia que passa - bem pelo contrário, cresce a gordura (vidas sedentárias) e a juventude vai fugindo. é o meu corpo que me permite Ser. já funcionou melhor, é certo, mas permite respirar e agir, reagir, comunicar e experienciar.
quando era miúdo, agora já posso dizer, há umas décadas atrás, achava que aquele (sim, porque entretanto cresceu e mudou em certa medida) era o MEU corpo. havia um misto de sentimento de posse, por um lado, sentimento de descoberta, por outro. as primeiras feridas eram o fim do mundo. chegava a perguntar à minha mãe se ia morrer com aquele arranhão no joelho - na altura parecia-me uma pergunta perfeitamente lógica, ora, se estava a sair sangue, quem me garantia que essa perda não seria irreparável.
nada como o passar do tempo e a experiência repetida para deixar esses receios para trás e passarmos a ser arrogantes com o nosso corpo e a tomá-lo por adquirido.
nessa altura, quando era miúdo, quando fui para a Primária e conheci a minha primeira professora, a Dona Esperança - cujo corpo já deixou de ter vida, há uns anos (fui ao funeral dela) -, tinha a certeza que o corpo me pertencia e portanto podia fazer com ele o que bem me apetecesse. ia testando os limites, os saltos, a força, era um corpo em crescimento, pronto para ser testado e magoado sempre que os testes iam longe demais - a minha testa e joelhos que o digam.
hoje vejo o corpo de forma diferente. sim, podemos fazer com ele o que nos dá na gana, tatuagens, marcá-lo para a vida, cicatrizes de aventuras, acidentes e tristezas, cirurgia plástica. tudo é permitido, nada nos diz que ele não nos pertence. MAS o corpo que usamos não nos pertence. é um veículo que usamos para ter vida, para respirarmos, funcionarmos, comunicarmos, agirmos e reagirmos, mas não é nosso. não é nosso porque a partir do momento em que deixa de funcionar bem, começa a ter problemas e entramos em modo GAME OVER deixamos de o possuir. deixamos de ter vida.
tudo está concentrado no cérebro, sem cérebro, o coração pode continuar a bater mas a vida consciente já não mora ali - chamam-lhe a morte cerebral, mas é morte. o que é a morte? a piada é que é o contrário de estar vivo. mas é. não é piada. e é coisa tão divertida quanto séria. tão assustadora quanto inevitável - segundo sabemos - e insignificante. algo que acontece a todos só pode ser insignificante. no entanto é assustadoramente real e irreparável. não há volta atrás. não há segundas oportunidades, quando ficamos sem vida, ou voltamos dentro de uns instantes breves, ou vamos manter-nos assim para sempre. e o sempre - esse estado permanente - tem muita força, tanta quanto "o que tem de ser tem muita força".
o corpo é descartável. como a máquina fotográfica que se usava há uns anos atrás. é usar e deitar fora - curiosamente nunca é o morto que se vê livre do seu próprio corpo. e convém mesmo deitar fora porque os corpos "infestam o bar". sem vida? pode-se usar partes para ajudar outros, mas a vida que havia ali foi-se. acabou. o definitivo é muito forte e, neste caso, cria uma aura de mistério para nós, seres humanos.
tenho de utilizar este meu corpo para fazer umas coisas, porque depois deixo de existir. posso ir amealhando coisas, muitas coisas, bens, carros, casas, riquezas, relógios, roupas, opiniões, preferências, crónicas, textos, livros, ideias, segredos, tristezas, alegrias. mas quando deixo de existir deixo tudo para trás, para outros, os vivos. e o que não deixo à mostra, o que pensei fazer mas nunca fiz, perde-se para a eternidade - o tal sempre, definitivo.
daí que o corpo é, de facto (com 'c'), um veículo, uma máquina orgânica que usamos, como usamos o carro para ir do ponto A (Algueirão) ao ponto B (Benfica, a localidade) ou a máquina fotográfica para tirar as fotografias que é possível tirar e depois deitamos fora. o que faz o corpo ser um veículo é esta coisa que se pode chamar CONSCIÊNCIA, ou inteligência, ou raciocínio, ou capacidade de comunicação e/ou compreensão. há quem lhe chama alma e acredite com todo o seu ser que existe um HADES (um mundo metafísico) para além do corpo (a funcionar), para além da vida. há quem acredite que nesse hades há o hades bom (céu/paraíso) e o hades para os maus (inferno). acreditar é uma daquelas coisas que fazemos quando estamos vivos. e como pessoa viva sou daqueles que espera para ver. acredito. acredito que não sei se acredito ou se não acredito num HADES.
é um tema tão antigo quanto a humanidade. essa humanidade que percebeu: "porra, quando o gajo morre não vive mais depois disso, pelo menos neste corpo que achamos que é nosso". desde essa primeira constatação que se criaram crenças no sobrenatural, no divino, no 'não presente' perante os nossos sentidos. há relatos suficientes para haver quem acredite em todo o tipo de possibilidades. que se saiba, cientificamente, não há relatos/elementos/provas suficientes para provar para lá da mínima dúvida a existência desse HADES. estamos certos que existimos porque os nossos sentidos, os que o nosso belo corpo providencia, nos mostram que existimos.
através do tacto (com 'c'), visão, olfacto (com 'c'), cheiro... experienciamos o planeta Terra e muito do que vem nele (incluindo o elementos, os vegetais e animais - como os humanos) e ainda o Sol, Lua e estrelas longínquas que o iluminam e influenciam (o planeta e a nós, por acréscimo). 
há dias em que ficamos na dúvida se não será tudo um sonho, como um filme de David Fincher ou David Lynch, mas vamos confiando nos sentidos do 'velho' e durante alguns anos honesto corpo.

os robots nunca ficam fragilizados com o seu fim, pelo menos nos filmes. vão desligar a ficha? acabou? faz tudo parte do processo. pode-se procurar ficar mais tempo em actividade, mas se não houver outra hipótese, resta acolher a inevitabilidade tal como ela é, inevitável.
posto isto, resta-me terminar com uma confissão muito humana. a morte IRRITA-ME. irrita-me porque não a compreendo. entendo que tudo tem um fim. entendo que o corpo não dura para sempre - até porque até ao momento (peço desculpa pelos dois 'até') a ciência/medicina ainda não encontrou forma credível de transportar um cérebro em funcionamento para um outro corpo (mecânico) que dure muito mais do que os 70-115 anos limite para todos os humanos (o limite, que se saiba, foi atingido por Jeanne-Louise Calment que cumpriu 122 anos de vida e perdeu-a, a vida, em 1997).
o que me irrita na morte é saber que a minha consciência e experiência - em conjunto - vai, de facto, deixar de existir, pelo menos considerando que o cérebro não tem nada de metafísico e não irá 'subir' ao HADES. lembro-me quando o meu bisavô Abílio morreu, de ter esperado por um sinal dele. um vislumbre de que havia existência além da morte. pedi-lhe. quis acreditar. e tive respostas - barulhos e coisas que caíram. infelizmente (ou felizmente, não sei) nada que me fizesse acreditar que eram sinais dele. o peculiar é que há muitos mais mortos do que vivos. ou se calhar não. só há vivos. porque quando se morre, pelo menos o corpo passa a ser "ashes to ashes, dust to dust" - parte do vasto espólio do que não vive. boa noite e, mantenham-se vivos.







quinta-feira, março 15, 2012

comandar o tempo com o 'pause' & 'play'

Às vezes dou por mim com vontade de parar o tempo, mais do que é costume.

São 08h08. Vou ali tomar um duche. Quando volto a olhar para o relógio, já são 08h25.

Deviamos ter um comando para controlar o tempo. Existem actividades que são claramente extra-temporais. Chichi, cocó, banho, limpeza das fossas nasais, cortar as unhas, tirar a cera dos ouvidos, lavar a cara, mãos e afins. Isto deveria obrigar a um grande "PAUSE" na vida. Faria todo o sentido.
O problema é que a vida não é como o basquetebol, andebol ou futebol americano. A vida é como o futebol. O tempo não pára, nunca. Nem quando um jogador adversário faz fita, muito menos quando há bulha no relvado, alguém demora 10 minutos para ser substituído por um colega ou o árbitro decide marcar faltas a cada 10 segundos de jogo. O tempo não pára. A vida também é assim. E, tal como no futebol, com mais descontozito de tempo dado pelo árbitro no final, ou menos desconto de tempo, a vida acaba com todas as idas ao wc, conversas ocas, recolha e lavagem da louça, idas ao supermercado e CTT, desesperos no trânsito, limpezas da casa e do carro, tratamento de papéis, pagamentos de contas, idas à Segurança Social (Finanças e Lojas do Cidadão) A CONTAR. Tudo isso conta para a vida.

- Deus: Então, como foi a tua vida na Terra, caro humano.
- Humano: Pá, foi... Fiz chichi, cocó, tomei banho, limpei as fossas nasais, cortei as unhas, tirei a cera dos ouvidos, lavei a cara, mãos e miudezas, conversas ocas. Fui ao supermercado e CTT, tirei da mesa e lavei a louça milhões de vezes, desesperei no trânsito, limpei milhares de vezes a casa e o carro, tratei de papéis e do pagamento das contas, fui à Segurança Social (Finanças e Lojas do Cidadão) onde estive num total de 300 horas (12 dias)...
- Deus: Sinceramente, não sei para que é que criei os seres humanos.
- Humano: Das duas uma, ou dás-nos a possibilidade de pararmos o tempo para fazer estas actividades, ou deixa de ser egoísta e faz da malta toda, deuses.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

realidades naturais

É curioso como, em idade adulta, temos menos consciência de que somos tão insignificantes, na grande ordem do Universo. Vivemos no minúsculo planeta Terra, num pequeno sistema solar, um cantinho de uma galáxia que é só mais uma em milhares.
Foi preciso ir a dois museus de história natural norte-americanos (de Harvard e o Museu de História Natural de Nova Iorque) para voltar a "sentir" isso de forma tão presente. E é mesmo sentir, porque é uma sensação que se tem, da pequenez dos nossos problemas, do que somos e do que significa a nossa vida.

Mesmo assim, não vejo esta "sensação" como algo triste ou que tire importância à vida e à forma como a vivemos. É pura e simplesmente um facto, uma realidade que nos circunda (tal como o universo). Na verdade é esse universo, essa coincidência que é a forma como o planeta Terra está constituído que nos permite ter aquela coisa a que chamamos vida. E, segundo o que sabemos, o ser humano é algo muito muito especial neste universo. Até agora ainda não encontrámos satélites artificiais, nem sinais de vida inteligente nesse amplo universo.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

Make others feel better. Eventually, you'll feel better too.

domingo, fevereiro 05, 2012

suck out all the marrow of life

Aqui fica um resumo dos principais arrependimentos das pessoas no leito de morte, tais como foram testemunhados por Bronnie Ware, uma enfermeira australiana.

Quem me dera ter tido a coragem de viver de acordo com as minhas convicções e não de acordo com as expectativas dos outros. «Este é o arrependimento mais comum. Quando as pessoas se apercebem de que a sua vida esta a chegar ao fim e olham para trás, percebem quantos sonhos ficaram por realizar. (…) A saúde traz consigo uma liberdade de que poucos se apercebem que têm, até a perderem».

Quem me dera não ter trabalhado tanto. «Este era um arrependimento comum em todos meus pacientes masculinos. Arrependiam-se de terem perdido a infância dos filhos e de não terem desfrutado da companhia das pessoas queridas. (…) Todas as pessoas que tratei se arrependiam de terem passado muita da sua existência nos ‘meandros’ do trabalho».

Quem me dera ter tido coragem de expressar os meus sentimentos. «Muitas pessoas suprimiram os seus sentimentos, para se manterem em paz com as outras pessoas. Como resultado disso, acostumaram-se a uma existência medíocre e nunca se transformaram nas pessoas que podiam ter sido. Muitos desenvolveram doenças cujas causas foram a amargura e ressentimento que carregavam como resultado dessa forma de viver».

Quem me dera ter mantido contacto com os meus amigos. «Muitas vezes as pessoas só se apercebem dos benefícios de ter velhos amigos quando estão perto da morte e já é impossível voltar a encontrá-los. (…) Muitos ficam profundamente amargurados por não terem dedicado às amizades o tempo e esforço que mereciam. Todos sentiam a falta dos amigos quando estavam às portas da morte».

Quem me dera ter-me permitido ser feliz. «Muitos só perceberam no fim que a felicidade era uma escolha. Mantiveram-se presos a velhos padrões e hábitos antigos. (…) O medo da mudança fê-los passarem a vida a fingirem aos outros e a si mesmos serem felizes, quando, bem lá no fundo, tinham dificuldade em rir como deve ser».
via Sol

quarta-feira, dezembro 21, 2011

Quem escreve (em blogs, em redes sociais, em cadernos, Moleskines, livros, folhas de papel soltas) seus males espanta.

quinta-feira, outubro 27, 2011

money...

... Still makes the world go round. And now it comes in billions of billions.



Good luck with that.

sábado, setembro 24, 2011

smells like teen spirit. it does. nirvana.

Up with People. Ando a ver muita gente em baixo. Smells Like Teen Spirit. Para cima é que é o caminho, nem que se regresse às origens e se comece de novo. Não se esqueçam de respirar, o resto virá por si. Boa noite e, boa sorte. 

Smells Like Teen Spirit. Nirvana. Live.



nirvana
s. m.
1. Estado de beatitude muito perfeito que é o objectivo supremo do devoto budista.
2. [Figurado] Apatia, inércia, o nada, o aniquilamento.


ESCOLHAM A PRIMEIRA!!





Load up on guns and bring your friends
It's fun to lose and to pretend
She's over bored and self assured
Oh, no, I know a dirty word

Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello...

With the lights out it's less dangerous
Here we are now entertain us
I feel stupid and contagious
Here we are now entertain us
A mulatto, an albino, a mosquito, my libido
Yeah! Yay! Yay!

I'm worse at what I do best
And for this gift I feel blessed
Our little group has always been
And always will until the end

Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello...

With the lights out it's less dangerous
Here we are now entertain us
I feel stupid and contagious
Here we are now entertain us
A mulatto, an albino, a mosquito, my libido
Yeah! Yay! Yay!

And I forget just why I taste
Oh yeah, I guess it makes me smile
I found it hard, it's hard to find
Oh well, whatever, nevermind

Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello, how low
Hello, hello, hello...

With the lights out it's less dangerous
Here we are now entertain us
I feel stupid and contagious
Here we are now entertain us

A mulatto, 
an albino, 
a mosquito, 
my libido

A denial. A denial. A denial
A denial A denial A denial
A denial A denial A denial
A denialA denialA denial

quarta-feira, agosto 17, 2011

domingo, julho 10, 2011

moody, i'm in a hank moody mood *

You can't always get what you want. 
Os Rolling Stones fizeram destas palavras uma bela, simples e inspirada canção. E se há coisa que aprendemos cedo na vida é que não pudemos ter sempre o que queremos, mas nada nos impede de tentar! Vou ali tentar e já venho. Boa noite e, boa sorte.



* não confundir com a outra Moody, a Moody's, empresa americana especialista em ratings de merda.

os elementos: água que sacia e cura

Sol e suor sempre combinaram um com o outro.
Sexta-feira à tarde, 15h06, Estádio 1.º de Maio.


A companhia das raquetes, das "amarelas" e do sol de Julho (o que chega ao hemisfério norte da Terra) são um preâmbulo perfeito para uma partida de muitos falhanços, corrida e suor.
O court é maior do que me lembrava desde o último jogo. Há actividades que nos parecem que saem de nós de forma natural e, esta do court, raquete, "amarela" e rede, é uma delas. A competição dá-nos o alento de continuar, de correr, de parar e reagir, de um lado para o outro, com os olhos na bola, concentrados, suados. Mesmo cansados, enferrujados e esgotados não há fim anunciado. A primeira meia hora mais pareceram três horas de esforço e de deambulações. A mão esquerda e os respectivos dedos começam a ficar doridos e calejados. Serviço. Rede. Repito o serviço de forma mais lenta. Ele atira de volta e o jogo voltou.
Corro para o lado esquerdo. Bato a bola para o lado direito, sem arriscar dar efeito. Posiciono-me e espero, concentrado. A bola é devolvida para o meu lado direito. Corro e com a ajuda das duas mãos tento fazer um "chapéu". Out. Saiu para fora. O jogo continua. Os pontos vão sendo atribuídos e o tempo vai passando, jogo a jogo, set a set, suor e mais suor. A segunda meia hora passou mais rápido. O cansaço físico no final é total, mas a cabeça está mais fresca e descomprimida do que nunca. Com o sol a bater, o ar quente quanto baste e as árvores a alegrarem a vista, a água cristalina do bebedouro (que bela palavra) junto ao court elimina a sede e cura o corpo cansado e dorido. E nunca a água soube tão bem.
As circunstâncias moldam as nossas sensações e nada melhor do que agir, competir, fazer e viver... para sentir.

sábado, junho 18, 2011

no fear, no consequences.

filho

Sou filho da noite, mas não saio de casa
Sou filho da puta, mas não faço mal a uma mosca
Sou filho do rock, mas não sei rockar
Rebelde, rebelde, rebelde, rebelde
O lado negro do rock chama por ti
Entra na roda viva, entra e gira, gira, gira, gira
Morro amanhã, morro amanhã, morro amanhã

sexta-feira, junho 17, 2011

filosofias 'socráticas', o verdadeiro...

A vida é uma carruagem
que está sempre em andamento
e nos deixa duas escolhas,
ou subimos a bordo
e percorremos caminhos e experiências,
ou ficamos em terra e quietos... eternamente.
Não fiques parado.

quinta-feira, maio 19, 2011

dias que são dias

Há finais de dias que são tão tristes. Não porque o dia foi bom, ou porque tudo correu bem e custa acabar. Não. Simplesmente são dias em que aquela luz mais alaranjada dos últimos raios do sol nos mete melancólicos e estranhos. O sentimento do dia de hoje é simples: a luz está a acabar, o dia a encerrar, e tu não o aproveitaste para nada de especial. Foi só mais um dia, que mais pareceu apenas menos um dia. Que o seguinte seja diferente. Boa noite e...

sexta-feira, abril 15, 2011

Untitled

Untitled by virginiaz
Untitled, a photo by virginiaz on Flickr.

obituário

amanhã começo a escrever o obituário dos meus 30 anos de vida (não tenho mais, até ao momento, tirando uns dias para a amostra), em formato de monte de folhas, espera-se. nenhum dos últimos 30 anos volta mais, são passado e tornaram-se isso mesmo no dia x de Abril. agora resta deixar-lhes um bom texto de despedida ou homenagem, focando um ou outro momento desses 30 círculos de 12 meses, uns mais conscientes do que outros.


PS: tal como qualquer português/político que se preze, começo hoje por prometer, sem qualquer certeza que vá cumprir. o mais provável é não passar de uma intenção nocturna, que passa com a chegada do primeiro sono da noite e o lento acordar da manhã.

segunda-feira, abril 04, 2011

só pode melhorar

Passei parte das últimas 48 horas a ouvir pessoas diferentes, nas suas casas, a contarem um pouco do que pensam, do que esperam da vida, das condições que têm e do que sofrem. Curioso como algo profissional, se torna tão pessoal quando as estórias de vida têm uma voz e uma cara. É uma sensação estranha que me faz (re)pensar a forma como encaro a vida em geral e a categorização que vamos ocupando ao longo dos anos e das circunstâncias.
Solteiro, casado, viúvo, junto em união de facto, com ordenado chorudo, com reforma de 200 euros miserável, desempregado mas com sonhos, a idade, a escolaridade, o medo de perder o emprego, a satisfação total por receber a horas o ordenado, o número de pessoas com quem vivemos... As categorias não nos deviam definir, na verdade não definem totalmente, mas que condicionam profundamente, disso não tenho dúvidas, a julgar pelo que vou ouvindo - uns mais do que outros, umas nacionalidades/culturas mais do que outras.
O sorriso nos lábios de alguém, feliz por poder comunicar com outra pessoa que quer ouvir e dá alguma atenção é tão bonito como triste. Como dizem dois brasileiros (já com nacionalidade portuguesa) que conheci hoje, "a vida só pode melhorar, nem que seja por estarmos vivos e podermos continuar para a frente, a viver".

precisas de mim? então vou ali e já venho

Porque é que o acto de ir ao café ou comprar tabaco e nunca mais voltar à família é TÃO maioritariamente masculino?
Hoje as 'fugas' da família talvez não repitam tanto o cliché, mas acontecem. Tipo: "Estou farto de vocês, não lhes consigo dizer na cara. Piro-me definitivamente alegando que vou fazer algo corriqueiro e parto para outra vida."
É o desejo masculino de não se sentir preso a nada?
Dificilmente será porque a mulher bate no marido... (embora exista violência verbal, psicológica e sentimental...)
É o desejo masculino mais propenso à desistência nas relações?
É o homem menos capaz de cumprir/assumir um compromisso? Claramente (em maioria)... sim.

eu sou... ... tem dias.

- sou desempregado, mas faço uns biscates, tenho a ajuda da família, podia ser mais feliz

- sou divorciado, estou com os meus filhos fim-de-semana sim, fim-de-semana não, pago pensão de alimentos choruda, trabalho sábados e domingos ocasionais para poder pagar as contas, podia ser mais feliz

- sou viúva, vivo com o meu gato e o cão, tenho uma reforma de 300 euros, tenho as minhas rotinas, podia ser mais feliz

- sou trabalhador por conta de outrem com um bom ordenado, tenho uma boa casa e posso manter um estilo de vida com férias para sítios agradáveis, com boas vistas e actividades, dar o melhor à família e a mim, tenho sorte por estar assim, vou sendo feliz.

em alturas de crise, o dinheiro parece ajudar mais um bocadinho na hora de ajudar a dar felicidade. pelo menos não há desculpas mentais para não ir... e viver/gastar.

sexta-feira, março 11, 2011

todo o mundo é composto de mudança

Refúgio. Farto das redes sociais. Mas não me vejo livre delas. Farto daquela borbulha na zona do elástico do boxer, mas não há meio de me ver livre dela. Farto dos políticos, das Deolindas, dos Deolindos, das injustiças, da incerteza, do buraco do ozono, dos tsunamis e mesmo do cheiro a napalm pela manhã. Farto da ficção audiovisual, dos clichés, das tartarugas do trânsito, dos cabr*es desse pasto que é a estrada e das hipocrisias destes tempos de pornografia tecnológica. Farto de não estar farto e farto de estar. A insatisfação faz parte do ser humano e da vida humana em geral e a saturação vem com o território. Por isso, mudam os tempos, mudam-se as vontades...