sábado, julho 15, 2006

casamento

1h21. É tarde. Amanhã de manhã vou para Torres Novas de comboio, partida do Oriente (a gare). Podia ser apenas mais uma manhã, mais uma viagem. É sempre mais uma manhã, mais uma viagem. Mais um dia. Mas... esta tem um significado em particular. Porquê? Vou passar o fim-de-semana com um amigo que se vai casar dentro de uma semana. É uma altura especial, não só porque é o meu primeiro grande amigo a casar-se (também não tenho assim tantos) e, depois, porque é um dos meus melhores amigos, alguém próximo, e isso faz-me ainda pensar mais. Vou-te contar a quantos casamentos fui recentemente: Nenhum. Vou-te contar a quanto casamentos fui há uns tempos: Nenhum.

Aliás, não me recordo da última vez que fui a um casamento. Indo bem atrás nas minhas memórias recordo-me de ir aquele que julgo ter sido o meu último, não foi nada por aí além. Foi de um colega de trabalho do meu pai, recordo-me de ficar espantado com o dinheiro que o meu pai lhe deu como prenda. Era alguém que conhecia, tinha o nome cativante de Zé Foz, e que até gostava, embora não o conhecesse assim tão bem. Lembro-me perfeitamente de pensar que era estranho como conhecia aquele senhor simpático do local onde ele trabalhava, mas que não conhecia nada da vida que estava ali a testemunhar... a outra vida.
Que idade tinha? Simples, não sei! Talvez 15/16, por aí. Acho que em toda a minha vida, 25 anos, fui a dois casamentos. Um, foi este que falei, outro foi quando tinha uns 10 anos. Era um primo franzino que se casou com uma senhora de peso considerável. Achei todo o ritual estranho, e fiz questão de o demonstrar. Aliás, não me esqueço da minha revolta em ter de comprar roupa para o casamento. PIOR: ter de levar umas calças (espécie de fato) que ficavam ligeiramente abaixo do joelho. Uma espécie de calças de pescador. Curioso como não gostava porque achava incómodo, especialmente para correr, actividade predilecta mesmo em espaços pequenos. Curioso como, agora, é moda e a criaçada gosta do estilo, embora sem ser de fato, claro.
Contas feitas, foram dois casamentos. Ui.
Para este lá fui eu recordar todos esses momentos. Mas houve um problema. Tive de ser eu a ir comprar a roupa que não queria. Pior, um fato. Claro que mãezinha e xojinha tiveram de insistir... "porque um fato é sempre uma coisa que fica e dá jeito"... curioso como em 25 anos de vida nunca me deu jeito, até porque não tinha.

O casamento de alguém próximo costuma ser um momento de felicidade. No meu caso também é, embora não dê grande importância à instituição e acto do casamento. Mas custa tanto ver que estamos a crescer, que nada será como dantes, para o bem e para o menos bem. Custa ver que estamos a passar por um processo usado por outros, por diferentes gerações que, no fundo, foram tão iguais, mesmo com as suas diferenças. Este tipo de coisas causa-me algum receio interior. É daquelas alturas que me questiono, mais uma vez, das escolhas que tenho feito na minha vida. O que quero fazer e para onde quero ir. Noto que a idade vai passando. O casamento é uma etapa que a sociedade nos criou. Juntamo-nos com alguém, que nos ajuda e que nós ajudamos, que nos acarinha e nós acarinhamos, e... casamos. Nem todos passam pelo processo e talvez sejam mais autonómos e felizes assim, mesmo que não tenha sido por escolha própria, mas, no entanto, vão existir muitos momentos em que vão querer tanto ter tido alguém. Dizem-me que temos é dar valor ao que temos. Digo o mesmo.
Sempre que olho para a pilha de jornais do meu quarto (ou a pilha que é actualizada com novos jornais), percebo que o tempo está a passar como um foguetão tenta chegar à Lua. Rápido e de forma amorfa. A vida é para se viver, mas acho que deveria começar tentar vivê-la de outra forma, algo diferente. Talvez em Janeiro tenha eliminado a pilha anterior e fui amontoanda uma pilha de jornais nova. O que é certo é que, mesmo sem exagerar nos jornais colocados, hoje ela quase chega ao tecto. E o que mais dói é que eu nem dei pelo tempo passar. Tenho feito muita coisa, talvez pouca coisa que interesse verdadeiramente.

"This is my last goodbye", ouço no leitor o Jeff Buckley cantar. "Life's too short...", volta a dizer este senhor. Ele já morreu, de uma forma tão normal e assustadora que até custa pensar nisso. A nadar. Era ainda jovem. Tudo o que ele fez, enquanto músico, enquanto pessoa, só valeu até aquele dia, da sua morte. Apesar da sua música ter perdurado, isso não interessa absolutamente, nada. O que interessa mesmo é ele ter vivido como queria, até onde podia, e ter feito aquilo que, naquela altura, mais lhe pareceu certo e lhe deu prazer. Isso conta, ou contou, para ele.
Este é o meu último Adeus.