segunda-feira, maio 18, 2009

o mundo lá fora

As notícias estão cada vez menos frescas e as ideias cada vez menos boas.
Sexta-feira à noite. El Corte Inglès, UCI. Lisboa. As salas de cinema parecem a feira sábado de manhã. Correntes de pessoas passeiam-se de um lado para o outro na entrada e corredores das salas de cinema, entre o desejo de pipocas que podiam ser vendidas ao preço da uva mijona mas custam o mesmo do que a uva Roman Ruby (é muito cara), e uma Coca-Cola que custa 10 vezes menos no supermercado. É proibido trazer pipocas ou Cola de casa. Faz sentido, pelo menos para os bolsos do cinema.
A sessão de Anjos e Demónios esgotou. A pressa por ver blockbusters continua frenética. Ir ao cinema é coisa de massas e começa a ser assunto para se ter massa, já que barato não é. Tenho saudades da calma de um cinema vazio.

Sábado à tarde. Freeport, sem ser o Caso. No meio do "deserto" de Alcochete vislumbra-se ao longe o centro de comércio e caso de polícia Freeport. As espécies da zona devem gostar da companhia. À entrada uma pirâmide de vidro no meio de um mini lago. São as Informações do Freeport. Entrei. Pedi para esclarecerem dúvidas sobre o Freeport que tinha (ainda tenho).
Foram afáveis... até eu ter colocado as perguntas: gostaria de saber informações sobre se houve abuso de poder, prendinhas, beijinhos ou corrupção de José Sócrates, tios, primos, mãe, avó, avô e sobrinhos para que o Freeport tenha sido erguido por aqui?
Não terei sido o único a fazer a pergunta, porque foi-me aplicado de imediato o "Código 333". Basicamente consiste em ser massajado nas costas pelos cotovelos de um senhor que pesa 333 kg (só podia).

Andar às compras, para mim, vem com um limite temporal. Depois do limite ter sido ultrapassado o meu cérebro deixa de responder em tempo real... entra numa outra dimensão. O limite temporal não é certo, varia de disposições. Certo é que após cinco lojas seguidas e 9999 peças de roupa vistas torna-se difícil processar mais roupa. Tudo parece igual. Não apetece experimentar nada, ver mais nada, andar mais nada.

Depois criam-se os cantos dos homens desesperados. Qualquer sítio que dê para sentar é um Oasis, tão raro como os verdadeiros Oasis no deserto (e que tal criarem espaços para os homens poderem estar à vontade numa loja, hein?!).
Os homens concentram-se em locais nada apropriados, à espera das suas analisadoras profissionais de roupa e acessórios. Seja perto dos vestiários, numa secção de lingerie intimidatória (onde os olhares parecem concentrarem-se em nós, o elemento estranho), junto ao guichet onde estamos sempre no caminho de alguém.
Depois tentamos disfarçar, mostrando naturalidade, hábito, brincamos com o telemóvel, olhamos ligeiramente para a roupa (mais a pensar como seria giro despi-la da empregada da loja), avaliamos (sem dar nas vistas) o que se aproveita na loja (não se fala aqui de roupa). Se houver secção masculina podemos passar por lá, por pouco tempo... com medo de nos perdermos.
Uma zona para nos sentarmos sabe a ginja. Zonas com sofás (normalmente perto dos sapatos) chegam a ser uma perdição. Mais curioso é ver que os homens concentram-se logo que podem ali. É um local de eleição. Sentar. Observar. Esperar. Mal o menos.

O máximo que alguma vez consegui comprar sozinho de forma consecutiva foram duas peças de roupa. Depois precisei sempre de um período de desenjoo. Ir às compras já custou menos, curiosamente. Ir a uma ou duas lojas e estar em cada uma no máximo 5 minutos é um privilégio ao alcance de poucos homens.

Domingo. Limpezas pela manhã deveriam ser proibidas em todos os países do planeta Terra. It's a dirty job, but someone as got to do it. Depois de começar até se faz bem. Mas levantar e começar é que demoraaaaa.
Início de tarde. A dúvida gera pânico. Será que a data de entrega do IRS já passou? A pesquisa no Google, mais demorada do que deveria ser (informação de difícil acesso) gera o alívio. Ainda faltam uns dias. Começa-se a juntar papéis, descarregar o programa do site das Finanças e a fazer contas à vida.
Fazer o IRS é uma espécie de fim de ano muito atrasado (são cinco meses de atraso), onde se recapitula 12 meses de vida numa perspectiva financeira, que acaba também por ser profissional e extremamente pessoal. Tiram-se ilações, sobre as conquistas profissionais, os gastos mensais e as grandes desilusões. Porque é que não fiz isto, porque é que fiz aquilo. Interrogações que, estupidamente, só surgem com cinco meses de atraso porque as contas (mais práticas e menos metafísicas) são feitas de forma mais completa com a elaboração do IRS.
O Estado devia-me pagar por trabalho de contabilista. Ter de contar factura a factura, papel a papel, deve ser tão doloroso quanto ser José Sócrates e ler crónicas de jornalistas contra medidas, acções de propaganda e afins sócratianas. O Sócrates processa nestes casos (da forma mais cara e eficiente que existe), será que posso fazer o mesmo relativamente ao Estado e ao meu trabalho como contabilista?
As Finanças deveriam anunciar a proximidade dos tempos de entrega do IRS da seguinte forma:



Segunda-feira de manhã. Uma palavra mal dita para a câmara tira o entusiasmo na edição de uma peça televisiva. Tiram-se lições e fazem-se emendas. É para isso que serve o curso. Depois disso, uma situação chata resolveu-se mais facilmente do que poderia julgar. Voltei a recordar como é ser guiado num automóvel, para variar.

O dia terminou com um regresso a um passado que não volta mais, para o bem e para o mal. Incrível como deixamos que os anos passem por uma parte da nossa vida, até que voltamos a ela e percebemos que deixámos para trás uma parte de nós. Ficou meio esquecida. E o tempo passou. Quando voltamos tudo está na mesma, mas já não é tão nosso quanto foi. Custa, mais do que parecia ser possível.

Sono. Dormir. Amanhã começa tudo de novo. Só que não é de novo. É a meio. Há-que compensar pelo tempo perdido, não desaproveitar o tempo ganho e organizar passado, presente e futuro.