sábado, fevereiro 21, 2015

e se todos os carros fosse iguais? seria triste.

Graças ao deus dos automóveis (seja lá o que isso for) que há muitas marcas e modelos diferentes, com designs e estilos bem distintos. Tive uma visão aterradora ontem, enquanto passeava numa das maiores fábricas de automóveis da Europa - a da Seat, de Martorell, na zona de Barcelona.
E se todos os carros fossem iguais, da mesma marca e praticamente do mesmo modelo? 
O que vi não foi bonito. Mesmo com carros bem desenhados e modernos como os Ibiza e Leon que se vêem aos milhares dentro e fora da fábrica da Seat, a constância de carros iguais é um enjoo doentio e cansativo.
Há um certo cinzentismo perturbador numa sucessão de automóveis totalmente iguais. Se na teoria existir um automóvel tipo para todos, uma linha de roupa para todos (e com as 'modas' isso até se vê, muitas miúdas e miúdas parece saídos da mesma página de catálogo fashion, inclusive nos penteados), ou outro tipo de acessório humano, pode parecer lógico, ver isso na realidade é simplesmente demasido castrador e limitado.
Existem produtos mais pequenos (no espaço que ocupam na rua e na sociedade) que um carro e menos pessoais do que a roupa que vestimos que até podiam ser todos padronizados e iguais que não daríamos muito pela repetição constante. É possível que sim (vou arriscar e dizer a Apple e alguns dos seus produtos). Mas se os iPhone passam mais despercebidos, uma sala cheia de MacBooks também pode ser um exagero masturbatório de igualdade tecnológica... só maçãs iluminadas umas atrás das outras.
Ainda assim uma visão bem menos surreal e intensa que dezenas de carros iguais por todo o lado. A diversidade automobilística é saudável, bem vinda e desejável não só no estilo próprio de cada marca mas também no propósito de cada modelo, entre o pequeno citadino, o sonoro e agressivo desportivo e o gigante monovolume.

quinta-feira, fevereiro 19, 2015

divagações sobre sorrisos pelo ar

Da série: coisas/divagações que um tipo escreve durante um voo...
   
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A muitas milhas acima da superfície terrestre, num avião a caminho de alguma cidade europeia nessa mesma superfície, dou por mim a pensar no que irá na cabeça de um outro ser humano. É uma rapariga, nos seus trintas, loura, bonita, e com um sorriso constante, contagiante e bonito.
    Está cá em cima, no ar, a cumprir um trabalho, uma missão, protocolos e regras especificas. É a sua ocupação, aquilo que faz para ter os meios para viver a sua vida, comprar as suas coisas.
    Quando olho para ela vejo dever, obrigação, e fico indeciso sobre o que aquele sorriso brilhante esconde por trás. Analisando o sorriso e a linguagem corporal, vejo um misto de obrigação e algum prazer no trabalho. Não vejo o sorriso 100% genuíno, alterna entre o 10% - para certas pessoas menos afáveis ou parvas – e o 90 a 100%, para pessoas ou situações mais próprias se sorrir genuinamente.
    Acabei por contar, nas operações de distribuição de comida aos passageiros deste pássaro mecânico voador, uns 5 a 10% de tempo em que assistente de voo (antiga hospedeira de bordo – designações leva-as os vento, ao estilo fiscal de linha vs árbitro assistente) não estava a sorrir. É obra. Deve ser difícil conseguir sorrir tanto tempo. Só uma pessoa de sorriso fácil conseguiria tamanha tarefa hércula. Ainda assim com o passar dos anos pergunto-me quanto se perdeu de sorriso genuíno e o acto de sorrir não passou a ser mais obrigação.

    Claro que nem todas as assistentes de bordo sorriem assim, há algumas mal encaradas, pouco sorridentes (ou com sorrisos bem mais forçados e pouco credíveis). Este sorriso é credível, mas deixa margem para me questionar quem é esta rapariga, quão genuíno é o seu sorriso e porque é que as pessoas têm o dever de sorrir em certas ocupações. É perceptível que se incentive a simpatia.

    O sorriso é um bem que não devia ser transaccionado. Será que neste caso está a ser. Provavelmente vem mais da pessoa do que da mera obrigação. Não me queixo do belo sorriso da rapariga loura, bem pelo contrário. Mas um sorriso tão duradouro deixou-me na dúvida.
    Lembro-me de um estudo que dizia, com alguma propriedade, presumo, que sorrir é contagiante e as humanos deviam tentar sorrir mais porque só esse acto pode ser positivo para a sua alegria e felicidade diárias. Eu sou daqueles que acha que um sorriso constante, ininterrupto, esconde qualquer coisa mais negra em algumas situações, pode funcionar como uma capa, máscara, pouco real e que mascara a realidade.
Mas uns quantos sorrisos por dia, nem sabem o bem que vos fazia (ok, até sabem, foi só para rimar). Despeco-me como comecei:
    Muitos sorrisos para todos.