segunda-feira, fevereiro 23, 2004

"Great Expectations" Vida de esperança. Sonhar


Quando vejo um filme que, de certa forma, me toca no meu serEmot costumo pensar no significado do cinema, para que serve... porquê olhar para um televisor ou tela gigante e ver 106 minutos de... inspiração. Pois é... a resposta é simples. Olhar para uma tela ou para um televisor pode ser bastante enriquecedor, transmitindo inspiração e espírito rejuvenescedor a uma vida normal... ou também ser um grande desperdício. Neste caso, ver o filme "Great Expectations" torna-se simplesmente numa experiência única.

Ao rever este filme, num DVD recentemente comprado (a preço de saldo), sinto uma leve proximidade com o recente Big Fish, de Tim Burton... a outra proximidade é o mundo que os livros de Charles Dickens trazem ao imaginário dos mais oudazes... (num mundo mais moderno)


Aquele inicio extraordinário, numa paisagem tão rica com tanta vida, um mar calmo e imenso, cegonhas, o som da água... tudo isto trazido ao nosso olhar por movimentos de câmara que favorecem um mundo tão real quanto bonito. Seguimos o modo como este rapaz de 9/10 anos vê esse mundo, e melhor ainda... como o pinta (desenha) com o seu lápis, num pequeno livro. Somos acompanhados nos momentos certos, com um timing preciso pelo narrador, que é o rapaz, só que em idade adulta. Finn Bell adulto conta-nos a história da sua infância... uma história que é mágica.

Finn: I'm not going to tell the story the way it happened. I'm going to tell it the way I remember it.

Só esta citação acaba mostrar outra semelhança com o novo filme de Tim Burton. O importante é como vimos e sentimos as nossas histórias, as nossas experiências, as nossas vidas... não apenas como nos aconteceu, do modo menos imaginativo. As nossas vidas poderão ser aquilo que imaginamos delas... e isso é... tão bom. Viver no mundo do filme "Big Fish" e no mundo de "Great Expectations" é acrescentar algo mais à nossa vida... do que apenas vivê-la.

Ficam aqui mais algumas citações:
Ms. Nora Digger Dinsmoor: She'll only break your heart, it's a fact. And even though I warn you, even though I guarantee you that the girl will only hurt you terribly, you'll still pursue her. Ain't love grand?

Finn: Seven Years passed, I stopped going to Paradiso Perduto, I stopped painting. I put aside the fantasy and the wealthy, and the heavenly girl who did not want me. None of it would happen to me again. I'd seen through it. I elected to grow up.

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Finn: The night all of my dreams came true, and like all happy endings,It was a tragedy, Of my device, for I succeeded. I had cut myself loose from Joe, from the past, from the gulf, from poverty I had invented myself. I'd done it cruelly, but I had done it. I was free!

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Finn: if this isn't love, I don't think I can handle the real thing

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Finn: It's my heart, and its broken.

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Finn: Everything I have ever done, I've done for you.

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Finn: I did it! I did it! I am a wild success! I sold 'em all, all my paintings. You don't have to be embarrassed by me anymore, I'm rich! Isn't that what you wanted, aren't we happy now. Don't you understand, that everything I do, I do it for you. Anything, that might be special in me, is you.

Interpretações assim, não são interpretações são pessoas fascinantes no ecrã... ok, o filme ajuda... mas Ethan Hawke (o sonhador Finn), Gwitneth Palthrow (a linda e provocante Estella), Anne Bancroft (a louca Sra. Dinsmore) Chris Cooper (o simples, com coração enorme, mas pacóvio... Tio Joe) e Robert De Niro (o criminoso condenado à morte: Arthur Lustig) são fenomenais e fazem deste filme um sonho bom...

Caro Alfonso Cuarón, obrigado por esta experiência de 106 minutos. Sem dúvida uma realização à medida do clássico de Charles Dickens (numa versão no mundo contemporâneo). Este realizador mexicano é o responsável pelo próximo filme de Harry Potter "and the prisoner of Azkaban".

Deixo de seguida algumas fotos essenciais...
Algo que me acompanha desde que vi este filme em 1998 (ano da estreia), é os dois beijos entre Finn e Estella, tanto em crianças como na idade adulta em duas fontes. Ele bebe água na fonte, quando, sem se aperceber, ela se aproxima e com a língua, assusta Finn num misto de sensualidade e estupefacção... aquele beijo é...
(em crianças)








Uhmmm. Será que Chris Martin, o vocalista dos Coldplay, actual apaixonado de Gwyneth Palthrow, viu este filme? Eu aposto que sim...

Sugestão musical das últimas semanas: Jeff Buckley, Live at Sin-é (cd1). Estou viciado...
Night Flight, Last Goodbye, Eternal Life, Just Like a Woman, Calling You, e claro... Lover you should´ve come over, Grace, Mojo Pin e... Be your Husband.

"Eternal Life is now on my trail
Got my red glitter coffin, man, just need one last nail
While all these ugly gentlemen play out their foolish games
There's a flaming red horizon that screams our names
And as your fantasies are broken in two
Did you really think this bloody road
would pave the way for you?
You better turn around
and blow your kiss hello to life eternal, angel" (...)
"Oh...
There's no time for hatred, only questions
Where is love, where is happiness, what is Life,
where is peace?" Jeff Buckley

"Nobody feels any pain
Tonight as I stand inside the rain
Ev'rybody knows
That Baby's got new clothes
But lately I see her ribbons and her bows
Have fallen from her curls.
She takes just like a woman, yes, she does
She makes love just like a woman, yes, she does
And she aches just like a woman
Buy she breaks just like a little girl." - Juff Buckley "Just Like a Woman"

"A desert road from Vegas to nowhere
Some place better than where you've been
A coffee machine that needs some fixing
In a little café just around the bend

I am calling you
Can't you hear me
I am calling you

A hot dry wind blows right thru me
Your baby's crying and I can't sleep
But we all know a change is coming
Coming closer sweet release

I am calling you
I know you hear me
I am calling you... Oh" - Jeff Buckley "Calling You"

»»»Lembras a vida de esperança... manhã fresca. Pinheiros calmos. Sol nascente. Raios sorridentes. Novo dia que chegava. Alegria que nascia. Chamavas a imaginação, a alegria. Chamavas o amor. Eras tudo aquilo que quero ser (voltar a ter). A caminho de nada, mas feliz... manhãs que valiam MESMO a pena.«««

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Um fascínio por tudo o que é perdido. Um fascínio por tudo o que pertence ao imaginário dos audazes... nada está acabado, apenas tudo se perdeu na imensidão de escolhas em diversos "mundos" que a nossa humanidade - palavra nem sempre abonatória, o âmago humano não é o mais altruísta - nos permite, num sem fim de... humanidade... ideias abstractas e pseudo-diferenciadoras.

humanidade - substantivo feminino
1. conjunto de todos os homens;
2. natureza humana;
3. figurado benevolência; clemência;
4. plural estudos clássicos superiores; letras clássicas;
(Do lat. humanitáte, «id.»)
___________

Lembras? Da praia - Foz do Arelho -, das bicicletas, dos jogos competitivos, do mar... do horizonte, do despojamento... nada mais interessava.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

FETICHE COISAS QUE SEDUZEM

in Público - suplemento Y.

Por João Tomé


MARCO DELGADO | MOÇAMBIQUE o meu país

Tudo começou há 31 anos atrás. Em 1972, no décimo oitavo dia de Outubro, o bebé Marco Delgado nasceu na cidade da Beira, em Moçambique. Não durou muito até que a guerra trouxesse Marco e a sua família para Portugal, tinha apenas cinco anos. Desde essa altura o jovem cresceu e tornou-se actor. Mas algo de Moçambique e de África permaneceu em Marco Delgado…

“Moçambique está sempre presente em mim. Mesmo que não tenha ido lá muitas vezes, tenho qualquer coisa daquele país enraizada na minha memória afectiva e emocional. Recorro a essa sensação nos momentos mais profundos e mais sérios da minha vida privada.” Com entusiasmo, interesse e satisfação, o actor fala nas suas origens, na forma como pensar em Moçambique, ou em África, lhe transmite uma liberdade incomensurável. Talvez por isso diga:

“Este meu fetiche é se calhar algo muito mais psicológico”, confessa. Tem a ver com a sua liberdade de pensamento e de estar. Marco recorre a esta reminiscência para interiorizar uma sensação de tranquilidade, de prazer e de bem-estar que o faz pensar que: “somos tão pequeninos, quando estamos em África, ou Moçambique. De repente, não somos assim tão importantes quanto isso. Não somos o centro do mundo”, afirma com convicção.

A sensação de despojamento que as suas origens inspiram, levam Marco Delgado – o jornalista no filme “A Bomba”, de Leonel Vieira –, a requestionar toda a sua posição em relação à família, aos amigos e também à forma como trabalha na sua profissão. “Coloco dúvidas a mim mesmo porque tenho um paralelo, um exemplo. Uma coisa única e especial que me obriga a ver as coisas de uma outra forma.” revela o actor.

Foi há oito anos que regressou a Moçambique. “Voltei lá com um trabalho que fiz com o Teatro da Barraca, com o Raúl Solnado.” Depois dos primeiros cinco anos de vida passados em Moçambique, uma semana e meia, em 1995, colocou-o de novo em contacto com as suas raízes moçambicanas. “Antes nunca tinha lá voltado, nunca tive oportunidade, embora tivesse sempre muita curiosidade.”º

Como foi regressar? “Foi fabuloso!” Com um entusiasmo de quem revive emoções de uma vida inteira nas palavras, Marco recorda: “De repente parece que todas as reminiscências voltaram e tive assim uma sensação de conforto e de bem-estar, uma sensação de estar de novo em casa.” Encontrar o país em mau estado não afastou o “à vontade” que sentiu em solo moçambicano. O sol africano vai preenchendo cada vez mais as palavras do actor, que parece imaginar ao falar.

“Há uma coisa fantástica em Moçambique! É o nascer do dia, que é muito cedo e que também é algo de especial e único.” Sente-se África nas palavras de Marco Delgado. “Os dias são enormes, têm umas 15 horas, aquilo nunca mais acaba. Ás cinco e pouco da manhã o dia já está a nascer”, conta entusiasmado por recordar.

Saiu do país muito novo, com cinco anos. Lembra-se que era muito agradável viver em Moçambique. “A forma como vivíamos era uma forma descansada. Tínhamos um pombal enorme, com muitas pombas e que me dava uma satisfação única e muito especial.”

Por lá os limites do pensamento parecem maiores, enquanto “aqui parece que estamos todos muito espartilhados com muita informação, muitos valores, muita comunicação social, muita televisão, muita publicidade.” Em Moçambique Marco Delgado encontrou liberdade que transporta consigo. Por ser tão virgem ainda, tão natural e tão puro.

“Eu sinto que permaneço com essa liberdade, o que é fantástico! É de facto tudo muito grande e tudo com muito tempo.” Isso deixa o actor de 31 anos a reflectir sobre o estilo de vida mais rotineiro, mais ocidentalizado, mais “stressado” e que “não nos dá tempo para nada”. Viajar para África e para Moçambique é “um privilégio de redimensionamento do nosso espaço, tempo e vida” que Marco Delgado espera ansiosamente repetir no futuro: “assim que não estiver ´inundado` em trabalho”.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004