segunda-feira, março 31, 2008

mundos urbanos cruéis e duros

O acto de um ser humano provocar dor a outro ser humano de propósito ainda é algo que me surpreende hoje em dia, quase 27 anos depois de ter visto a luz do sol pela primeira vez. Se bater noutra pessoa ou matá-la, muitas vezes para não roubar nada ou meia dúzia de euros é desnecessário e cruel, roubar ou estragar o que é dos outros também consegue ser igualmente mesquinho e triste. Ainda para mais quando se ganha pouco ou mesmo nada com isso... só para se deixar marca no dia, semana, mês ano ou mesmo vida de outra pessoa. Essa marca fica e custa passar. É a incompreensão que mais dói. A falta de necessidade de se entrar por ali, partir, estragar, fazer mossa. É ainda um acto cobarde e ainda mais parvo quando não há nada de nada para roubar.

Foi preciso para Lisboa para sentir essa injustiça ignóbil e revoltante na pele. Foram precisos seis anos a viver na capital do país para experienciar isso mesmo de forma directa. Roubaram-me uma scooter nova em 2005. Nunca apareceu. A polícia nunca disse nada a propósito da queixa. Dúvido muito que tenham, sequer, tentado procurar. Foi uma perda que me marcou. Que evitou que me metesse noutra tão cedo. Que me revoltou profundamente contra alguém que não conheço, contra um modo de vida que não compreendo de maneira nenhuma.

Desde então já senti outros efeitos criminosos. Foram desagradáveis e irritantes só não foram mais chatos porque aconteceram em viaturas que não eram minhas. Partiram o vidro de uma porta lateral de um carro que estava a testar numa madrugada em 2007, para roubarem o rádio. Agradeço a todos os santos, se é que existem, pelos sacanas não se terem lembrado (ou não terem tido tempo) para irem à bagageira, onde estava a minha mala cheia de objectos pessoais e ainda o meu computador portátil, onde estava grande parte da minha vida. Acatei o aviso e aprendi a lição. Desde então nunca mais deixei nada de valioso num carro, nem por uma hora sequer. É um alvo fácil para os nojentos que habitam o planeta. Recentemente partiram um vidro pequeno de mais um carro que não era meu junto ao Colombo, enquanto fui lá com a minha irmã (umas duas horas longe do carro). Tentaram espreitar a ver se havia alguma coisa na bagageira... mas não havia nada. Não roubaram absolutamente nada.
Hoje de madrugada foi uma amiga minha que chegou ao carro e deparou-se com o seu Renault Clio já antigo vítima de tentativa de arrombamento da porta. Provavelmente por pé de cabra. Agora não consegue abrir a porta por fora e tem a porta danificada. O que roubaram? Absolutamente nada, até porque não havia nada para roubar.

Mas qual é a motivação de escumalha que faz isto? O que ganha? Porquê perturbar tanto a vida de quem não se conhece?