Um pequeno vídeo tolo fez-me lembrar como foi bom crescer nessa bela
localidade que é as Caldas da Rainha (onde incluo ainda o Oeste de
Portugal).
Aqui ficam memórias caldenses.
Sair da escola e passear pela
rua das Montras, ver as babes, ir à
Praça da Fruta, passar pelo Parque (onde se jogava ping pong ou se
apanhava molha em passeios de barco agitados no Verão).0
Iir à
Upacal e comer um salame, ou passar pelas lojas do
Parque, levar uns deliciosos Beijinhos. Ou, no Verão, ir experimentar os sabores novos na gelataria
Puzzle (e ainda ver as novas figuras com pénis XXL prontos a sair de fora ao mero puxar de um cordel).
No Verão, a malta ia quase todos os dias de
bicicleta até à praia: o
Alto do Nobre era a subida de montanha da viagem; a
fonte dos Namorados era o ponto de paragem obrigatório para esperar pelos lentos e beber água, no caminho até à
Foz do Arelho - 15 quilómetros para cada lado que envolviam uma corrida diária entre os presentes, claro.
Nesses mesmos verões, sempre que queríamos fazer mais uns quilómetros de bicla, metíamo-nos pelo verde
Nadadouro, com vista para a Lagoa de Óbidos, ou pelos caminhos menos conhecidos (de subidas complicadas) até ao meio da
Estrada Atlântica (entre São Martinho do Porto e a Foz).
Certos dias íamos no
autocarro saltitante estilo "mar alto" das
Caldas até à Foz, onde havia sempre gente conhecida e o Ricardão não
perdia oportunidade de assustar alguma miúda com o seu olhar fixo
pseudo-sensual.
Na Foz - onde o ponto de encontro era sempre "junto à Bandeira" -
jogava-se à bola umas
horas, via-se as babes, dava-se mergulhos criativos (por vezes
dolorosos) na Lagoa e combatia-se as ondas rebeldes durante horas no
'mar'. Muitas vezes (já sem o Lipinho na praia) só saíamos com o pôr do
sol - lembras-te, Robert Charruadas?
Aos fins-de-semana podíamos ir de carro até Peniche, apanhar o barco até às
Berlengas (fiz isso vezes a menos!).
Mais frequente foi: ir em famelga e de farta merenda na carrinha do meu
Tio Zé almoçar no pinhal do Outro Lado da Foz. Depois do almoço que
envolvia frisbees, cartas e afins, a tarde era passada na gigante
Praia Del Rei,
onde haviam nudistas lá ao fundo e o areal (com riachos com ligação ao
mar pelo meio) parecia não ter fim. Por lá lembro-me de jogar aos
Gladiadores Americanos ou aos penáltis com o Nuno Vinhais, de jogar
raquetes até cair para o lado com o primão André Ramalho ou o daddy e
de ficar vermelho, estilo Índio, como um pimento.
Quando havia vontade de fazer mais do que 20 quilómetros e ir para a confusão, íamos ao
Baleal aproveitar aquele mar perfeito (entre o calmo e o ondulado o suficiente para o surf) e areal delicioso.
Mais tarde, já andava na faculdade em Lisboa, comecei a frequentar com a malta aos fins-de-semana ou nas férias
Supertubos. Passou a ser a praia de eleição no Oeste, mais calma, com boas ondas e relativamente perto.
Voltando atrás, aos tempos de Secundário: em Agosto, nos verões em que não ia
aprender a trabalhar com
o meu Tio Júlio, ou descansava na loja do meu avô a fazer descontos a
clientes, a ler as edições desde 1970 da TV Guia ou os desportivos sobre
os milhares de reforços do Benfas, ou em alternativa juntava-me à
(fictícia)
Associação Sindical do Apanhadores de Pêra Rocha Universitários do Oeste.
Na
Pêra, em plena aldeia da Sobrena, os dias começavam pelas 8h
em ponto - a viagem começava pelas 7h20 a partir das Caldas, no Fiesta
preto do Sérgio, com tudo ensonado.
Depois de boas histórias partilhadas, muita pêra comida, apanhada e
atirada violentamente para os vários jovens camaradas da Pêra, o dia
chegava ao fim com arranhões nos braços e pernas - a malta era acrobata
nas Pereiras - e bronze à pedreiro (ao almoço havia um 'endireita'
disponível).
A viagem de regresso de Fiesta pela mítica Nacional 1 era mais animada:
envolvia corridas de carros, rabos à mostra para quem ia de mota (o
Ruben era a vítima), buzinadelas para os velhotes que iam junto à
estrada (cumprimentavam-nos sempre!) e conversa na língua
russoviesky, onde o grande Cardozo era especialista doutorado.
'Olhando' para trás, penso:Jim Morrison é que tinha razão: «Carry me, Caravan, take me away
Take me to Portugal...» «The West is the Best».
E para mim confirma-se: o Oeste é melhor, pelo menos para mim foi.