Pensava mais na insónia em si, no presente no passado ou num momento 
lixado. Imaginava mundos e histórias, inventava canções e respectivas 
letras que me parecia geniais mas se desvaneciam pela manhã. 
A tv também andava por ali, mas recordo-me melhor das noites de Verão em
 que abria a porta de casa, entrava e abraçava a semi-escuridão da 
noite. Os pirilampos  a piscar fascinavam-me sempre. Nunca me cansava. 
Era delicioso... Perseguia-os. Capturava-os. Tentava perceber porque 
piscavam, se piscavam dentro de casa, com luz artificial por perto, e 
depois soltava-os novamente nas suas casas. 
Pensando bem era bom não ter computador naquela altura. Ou melhor, até 
cheguei a ter cedo mas não o usava todos os dias nem era importante como
 é hoje para comunicar, partilhar, recolher informação e procrastinar. 
Adorava ficar deitado pela noite no pinhal, a minha rua, o meu bairro. 
Adorava fugir, correr mesmo, estrada fora, com medo do que se escondia 
no escuro do pinhal, fossem lobos, monstros ou outro tipo de males - a 
imaginação era fértil. 
Não há maior liberdade do que sair da porta fora e estarmos totalmente à
 vontade, só nós e a natureza. A possibilidade de dar um berro ou cantar
 toda uma canção antes de deitar ou ao acordar no meio da 'rua', fora da
 porta de casa, em cuecas, sem constrangimentos, é das maiores 
liberdades que se pode ter. Eu sei porque sempre tomei isso por 
adquirido, mais de 18 anos da minha vida. Anos em que fiz parte de um 
pequeno pinhal. Isolado. Meu. Onde sonhei, imaginei, brinquei, marquei 
golos, explorei, vivi aventuras, cantei, discuti, ralhei, chorei e 
amei. 
Por isso e por muito mais serei sempre um tipo do campo, daquele pinhal,
 daquele céu e daquela liberdade, mesmo que nunca me tivesse 
identificado com alguma da 'típica' malta do campo que não ligava a 
filmes nem a música, nem a tipos como eu. 
Boa noite. E bons sonhos. 
 
