19 de Março – Dia do Pai – Domingo
17h42. Uma viagem. Mais uma. Regresso à cidade de trabalho. No 1.º andar do autocarro em que sigo a vista é privilegiada. A perspectiva do mundo é diferente. O lugar da frente, com olhar alargado está disponível. Já lá vão uns anos que não vou aqui. Decido experimentar novamente. Neste canto superior do autocarro sentimo-nos tão pequenos, somos remetidos de uma forma mais crua para a nossa pequenez. Um pequeno objecto transportado por este transporte tão grande ao pé de nós. Sentimos verdadeiramente a velocidade, os locais pelos quais passamos, todos os movimentos e aproximações de objectos desta parte da frente do autocarro… a primeira.
Somos os espectadores desta viagem e percebemos como é óbvia a nossa condição submissa. Não consigo deixar de fazer a analogia com a vida, a minha vida. Os trabalhos de responsabilidade quando se tornam rotineiros e não há uma paixão subjacente a eles, parece que com o hábito se fazem sozinhos. Quantas vezes não cheguei a casa sem me aperceber do que tinha sido feito, no que iria ver feito por mim no dia seguinte… muitos. Desligamos algo dentro de nós quando isso começa a acontecer. Neste canto sinto o paradoxo de protecção e vulnerabilidade. De um momento para o outro tudo pode mudar… é a fragilidade da vida.