sexta-feira, fevereiro 22, 2008

uma questão de aldeia

Os pássaros chilreiam mais alto nas zonas residenciais das cidades. São como aldeias em escala bem maior, com prédios bem maiores, mas com hábitos de aldeias, comércio tradicional mais vivo, padarias em cada esquina. Aqui vive gente. Aqui há de comer. Há de vestir. Há passeios para passear. Passeios que raramente estão vazios. Passeios onde se passeia. Mesmo aqueles que vivem aqui há muito e muitos anos. A vista pode ser a mesma, mas as pessoas vão mudando e dão vida às calçadas, aos prédios, às ruas. Existem milhares de telas, cada uma delas com uma expressividade única, com uma vontade própria. Telas jovens, telas antigas. Cada uma delas com hábitos próprios mas que se vão associando a cada uma das idades. Cada tela antiga é diferente das outras telas antigas, embora cada uma delas pareça ter hábitos semelhantes. Andam quase todos pelos mesmos sítios. Num sítio destes vale a pena sair de casa. Quando saímos, vamos mesmo espairecer. Podemos ir ao jardim, ali ao fundo, à pastelaria dos bolos bons e baratos ao virar da esquina. À lavandaria no canto da rua. À farmácia, no largo em frente. Tudo está ali, à mão de semear. As pessoas vivem e têm uma certa sensação de que não estão sozinhas. Há mais pessoas a viver como elas. E isso é bom. Há mais pessoas a viver como elas. E estão mesmo ali ao lado. Há mais pessoas a viver como elas. E podem-se ajudar mutuamente. Existe um espírito de aldeia, mesmo que não se conheçam os vizinhos, seja do andar de cima ou do prédio em frente. Basta vê-los noutra parte da cidade que há um sorriso cúmplice que diz “tu és dos meus, vives onde eu vivo e onde eu vivo é especial”. Gosto quem me abram a porta do prédio e me cumprimentem com um sorriso. Gosto de me sentar no sofá e pensar… a vida aqui é boa, seja o que for que esteja para lá desta pequena grande aldeia.