domingo, novembro 14, 2004

:: o caminhar do contador de histórias ::



> Na passada quinta-feira, passou na Dois no programa do Clube de Jornalistas uma entrevista bastante "apetitosa" a Miguel Sousa Tavares, que nem costuma aparecer em programas que não lhe pagam ou que têm pouco protagonismo. O jornalista/escritor não só explicou que adora escrever, contar histórias - disso é exemplo os vários comentários, crónicas e livros que já lançou em domínios tão distintos - como falou no jornalismo actual e na sociedade actual.

Lá pelo meio falou por livre iniciativa (sem responder a nenhuma pergunta) na insuficiência de apoio e educação que os jovens jornalistas têm nas redacções actualmente. Deu o exemplo do seu tempo, em que havia um apoio incondicional para explicar como contar histórias, como sentir a escrita e colocar-nos do ponto de vista do leitor, nem que seja a ler de uma forma diferente (mesmo físicamente) o seu próprio texto, para ver se corresponde ao que é a sua própria concepção de uma história bem contada. Apesar do talento ser interior também é preciso apurá-lo e a orientação é fundamental, ora, MST explicou que nada disso acontece nas redacções agora, onde os jovens são "colocados de pára-quedas" sem qualquer apoio. É sempre positivo e interessante ver esta perspectiva de um homem que se admira pela sua versatilidade e talento cria tivo.

in Clube de Jornalistas (site): "O escritor e o jornalista: "(...) O jornalismo ensinou-me como é que se conta uma história (...). Gosto de escrever (...) nem que seja fazer palavras cruzadas (...). Um dos grandes problemas do jornalismo é o abandono miserável dos jornalistas novos nas Redacções (...)."
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Há duas frases de Miguel Sousa Tavares, que não só me fascinam como uma delas se tornou de tal forma célebre que hoje é utilizada por muitas pessoas. O engraçado (que não tem piada nenhuma) é que a grande parte das pessoas que conheço sabem que é de Miguel Sousa Tavares, mas uns dizem que foi uma homenagem que ele fez depois da mãe, a poetisa Sofia de Mello Breyner morrer este ano, outros não fazem ideia de onde vem...

"Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

A verdade é que esta citação é do livro de crónicas de MST "Não te deixarei morrer David Crockett", e por acaso desde o momento em que a li (no ano em que saiu o livro) que me ficou na memória...

"Se o que tens a dizer não é mais belo que o silêncio, cala-te."

Esta é outra frase do mesmo livro que não esqueci ... e nem tenho muito o hábito de fixar citações...

E porque não ver uma entrevista feita por mim a MST para o suplemento do Público Y, em Janeiro deste ano... isto depois de uma tentativa de inquérito (não quis responder naquela altura) após a saída de Marcelo da TVI em Outubro, e um inquérito que consegui fazer já em Novembro sobre outras questões.
- Miguel Sousa Tavares... e o seu Deserto Interior

in Estagiários Jornalismo, by serEmot