sábado, abril 09, 2005

as primaveras da minha vida



Toda a gente diz "Parabéns!", quando alguém faz anos. Ou pelo menos é suposto dizer-se. Sai um grande sorriso na maior parte das vezes, como se fosse um acontecimento acabado de acontecer... e salta a pergunta mais habitual: "Então, sentes-te mais velho? hein?" OU "Como é ter mais uma primavera?" --- ao que por vezes respondo e na maior parte das vezes me apetece responder: "Por acaso nem tinha pensado que estava a envelhecer, mas obrigado por me teres lembrado..."


Fazer anos na primavera é muito agradável. Hoje está um dia estupendo. Sol. Céu limpo. Muita energia no ar e nem está muito calor, o que é refrescante. É um dia de Primavera típico, apesar de não estar a chover [Abril águas mil]. Recordo-me de não me recordar e de me contarem de que nasci num dia em que choviam aguaceiros breves, com alguns raios de sol pelo meio. Típico de Abril, portanto. Eram 18h25, consta da minha certidão de nascimento. Em retrospectiva o dia de anos ganha alguma importância, não só por ter nascido neste dia mas porque existem reminiscências fortes sobre os vários dias de anos que já tive. Foram 24 autênticas Primaveras. A maior parte delas não me recordo. Mas muitas tenho memórias vivas e que me põem em contacto com várias fases da minha vida. Já houve aniversários muito planeados, pouco planeados, muito maus e bastante bons. Mas também existiram muitos completamente banais. Em qualquer um deles dedico algumas horas, ou alguns minutos a PARAR. Tento parar a minha vida um pouco. Fico sempre algo frustrado quando faço isso, ou não fosse um pessimista por natureza. É mesmo assim. Para mim isso sim são os aniversários. As Primaveras da Vida são assim, às vezes.

A reflecção e retrospectiva. Devem ser momentos em que passamos sozinhos, isolados nem que seja por breves instantes. Nos dias de aniversário, por vezes, é agradável sentirmos que temos várias pessoas próximas. Mas nem sempre. Outras vezes parece um dia cínico. Olá, não nos vemos há meses e parabéns, boa vida. Uhmmmmmmm. Dá que pensar. A vida é cínica nuns momentos, e não cínica nesses mesmos momentos em que, simplesmente, temos outra disposição.

It ain´t a party, if you can come around. É normal a família mais próxima vir à minha casa materna. Sempre foram momentos que preservei na minha memória com grande alegria, muito pela exuberância, à vontade e proximidade com os meus primos. Já tive festas muito porreiras em família. Ultimamente as festas perderam a magia de outros tempos. Já não têm o mesmo significado nem metade da alegria. Aliás, as prendas são outra das coisas a que falta a magia inicial.

Prendas. Já não se recebem prendas especiais ou surpreendentes. Já não se recebem tantas prendas nem com tanto impacto. Receber-se-ia praticamente nenhumas caso não houvesse uma pequena festa, que serve praticamente para se dar mais uns euros, mais umas meias, mais qualquer coisa que até pode servir para a casa... doméstica [BRRRK, a pior prenda... BRRRRK]. Enfim. Ce la vie.

It´s my birthday and i cry if i want to. Voltando atrás no tempo recordo-me de alguns aniversários onde os 'dediquei' a outras pessoas que não a mim mesmo. Uns de uma forma enamorada, outros de uma forma de saudade. Saudade pelo meu bisavô João, que nasceu no dia 9 de Abril - o mesmo que eu - no ano de 1902 e morreu em 1989. Enamoro por algumas raparigas que por quem senti diversos tipos de encanto. Paixão platónica. Paixonetas e paixões profundas. Enfim. Recordo-me do meu 11.º aniversário que foi cuidadosamente planeado para a vinda de uma rapariga especial. Um passeio pelo pinhal e colinas selvagens perto de casa também cuidadosamente planeado. Todos os passos planeados. Nessa ocasião percebi que isso não resulta... Essa fase da minha vida tinha muitas semelhanças nos amores com os filmes de Jeunet Amelie e Um Longo Domingo de Noivado.

«Se chegar primeiro que aquele carro àquele beco ela gosta de mim e vai correr tudo bem», fazia esses pequenos testes comigo próprio constantemente. E acreditava neles. Durante vários anos seguintes fiz isso. Para muitas coisas. Inclusivé testes.
«Se aquela bolota cair em cima de mim vou ter boa nota.» São momentos que ainda hoje acontecem. A diferença é que não só são raros, como já não acredito neles, apesar de ainda fazer. É a esperança humana ao seu mais alto nível.

Nunca me hei-de esquecer de quando fiz 9 anos. Que mais não seja porque fazia 9 anos no dia 9. Só isso já era motivo para achar aquele momento especial e único. E era único de facto.



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Há pessoas que trazem a boa disposição atrás delas. Uma coisa impressionante. cativam. Colocam uma sala a cantar de forma alegre e entusiasta, até os mais velhos e cisudos. É agradável e até gosto, mas não sou bem assim, apenas muito esporadicamente e mesmo de forma rara. --- O filme A Namorada do Meu Melhor Amigo e a parte em especifico da personagem de Rupert Everett fez-me pensar nisto.