terça-feira, março 20, 2007

ausências para sempre, memórias para a vida

A semana passada morreu o meu pediatra, Dr. Bandeira Duarte.

Bandeira Duarte
Pediatra por vocação
Quando atravessamos a infância, há algumas coisas que nos fazem confusão e nos podem marcar, para o bem ou para o mal. Uma delas é ir ao médico. Desde 1981, ano em que nasci, que tive a sorte de poder contar com um excelente pediatra, que fazia da sua profissão um modo de vida.
Dr. Bandeira Duarte, para mim, era sinónimo de alguém a quem poderia confiar a minha saúde sem medos. Sinónimo de dedicação, seriedade, competência e, sempre que se justificasse, um sorriso tranquilizador e um brinquedo sempre à mão. Entrar no seu gabinete, era entrar num mundo cheio de coisas curiosas e a descobrir, que podia ser descoberto. Ao jovem mais curioso, que fazia perguntas sobre todos os instrumentos que o rodeavam – e alguns brinquedos -, o Dr. Bandeira Duarte respondia, com paciência e com a atenção que um ser, ávido por conhecimento, merece.
Até aos 11 anos, pude ir visitá-lo no seu consultório, ao pé da Rua das Montras. Apesar de ser sempre uma ida ao médico, era também como ir visitar um amigo, que perguntava sempre à pessoa a começar uma vida, como ia tudo e se mostrava sempre preocupado. Depois de mim, foi pediatra da minha irmã, desde 1988, ano em que nasceu. A ela, demonstrou uma generosidade maior, quando acompanhou com a atenção e disponibilidade já quase inexistentes nos médicos actuais, os seus primeiros anos de vida, muito turbulentos do ponto de vista de saúde. Foi ainda pediatra do meu irmão, nascido em 1995, embora só nos primeiros anos já que, depois da saúde do Dr. Bandeira Duarte ter piorado, deixou de ter o consultório.
A sua morte, a semana passada, teve um efeito doloroso e reavivou, ao mesmo tempo, uma memória antiga e boa. Foi uma perda ao mesmo nível de outra base da minha infância, que me marcou e, infelizmente, também já morreu, a Dona Esperança, professora primária caldense de generosidade imensa. É curioso como pessoas como professores e médicos, de excelência, podem desaparecer mas a memória deles perdura naqueles que eles trataram e ensinaram.



PS: o filho dele, que é o meu dentista e usa o mesmo nome, segue a mesma generosidade médica do pai. Depois do texto, que aparece por cima, ter saído na Gazeta das Caldas, o filho e a família viram e ele agradeceu-me pelas palavras. Percebi que ficou comovido, tal como a sua mãe (que era presença constante e afável no consultório do Dr. Bandeira Duarte). Não sei bem porquê, mas isso contou alguma coisa, para mim.